O HUMOR (MUITO PARTICULAR) DE OTTO LARA RESENDE
Positivamente, não posso ser apresentado a Satanás: como André Gide, sofro a tentação de entender as razões do adversário.
Abraço e punhalada a gente só dá em quem está perto.
Patrão de esquerda só é bom no dia do pagamento.
Leio muito à noite. Só não sou inteiramente uma besta porque sofro de insônia.
Sou autor de muitos originais e de nenhuma originalidade.
Sou jornalista, especialista em idéias gerais. Sei alguns minutos de muitos assuntos. E não sei nada.
Texto de jornal é estação de trem depois que o trem passou. Deixou de ter interesse.
Escrevemos, escrevemos, escrevemos. Clamamos no deserto. O clube do poder tem as portas lacradas e calafetadas.
Eu escrevo todos os dias, por compulsão. Mas agora, aos 70 anos, uma das perguntas que mais me intrigam é o que eu vou ser quando crescer.
A morte é noturna. À noite, todos os doentes agonizam.
A morte é, de tudo na vida, a única coisa absolutamente insubornável.
Sou leitor atento da página fúnebre. Tem mais gente conhecida do que a coluna social.
Não sou alegre. Sou triste e sofro muito. Dentro de mim há um porão cheio de ratos, baratas, aranhas, morcegos, escuro, melancolia, solidão.
O único erra humano que merece a pena de morte é o de revisão.
Deus é humorista.
Sou um sobrevivente sob os escombros de valores mortos.
Devemos a Graham Bell o fato de estarmos em qualquer lugar do mundo e alguém poder nos chatear pelo telefone.
Intelectual na política é quase sempre errado. É sempre errado. A práxis não deixa espaço para pensar; pensar é muito sutil, enrascado, complexo, multiplica as alternativas.
Política é a arte de enfiar a mão na merda. Os delicados pedem desculpas, têm dor de cabeça e se retiram.
A ação política é cruel, baseia-se numa competição animal, é preciso derrotar, esmagar, matar, aniquilar o inimigo.
Quem me garante que Jesus Cristo não estaria hoje na estatística da mortalidade infantil?
O homem é um animal gratuito.
Para mim, domingo sem missa não é domingo.
A tocaia é a grande contribuição de Minas à cultura universal.
Há um lado pobre-diabo em mim. Os pobre-diabos logo farejam e se irmanizam, me perseguem, não me largam.
Não quero tripudiar sobre ninguém. Junto a isto um insanável sentimento de simpatia, que me domina, por todos os decaídos.
Devo ter sido o único mineiro que deixou de ser diretor de banco.
Há em mim um velho que não sou eu.
Sou exatamente o menino que aos nove anos foi declamar um verso de Antero de Quental e se perdeu.
Minas está onde sempre esteve.
Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Helio Pellegrino e Otto Lara Resende |
(raulealiteratura.blospot.com.br)
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