Arriete
Vilela: artesã da palavra
(Neide Medeiros
Santos – Crítica literária FNLIJ/PB)
Não
escolhi números para a minha vida. Escolhi a poesia. E quando escrevo,
alheio-me, à maneira da avó, de tudo o mais. Concentro-me unicamente no
prazeroso (e difícil) trabalho de transformar a minha alma enrodilhada numa
alma rendilhada.
(Arriete Vilela. Alma
enrodilhada, alma rendilhada).
Arriete Vilela é alagoana de
Marechal Deodoro, professora e escritora. Transita com maestria por vários
gêneros literários: poesia, crônica, conto, romance, memórias, literatura
infantil.
Graduada em Letras pela Universidade
Federal de Alagoas, fez Mestrado em Literatura Brasileira na UFPB, João Pessoa,
no Curso de Pós-Graduação em Letras, defendendo, com louvor, a dissertação – A revista NOVIDADE: contribuição para o
estudo do Modernismo em Alagoas, trabalho que recebeu a orientação do
professor Neroaldo Pontes de Azevedo.
Publicou o romance – Lãs ao vento em 2005. Com este livro,
ganhou o prêmio Lúcia Aizim da União Brasileira dos Escritores do Rio de
Janeiro. A apresentação do livro foi da professora Sônia Van Dijck com o título
– As faces da palavra.
Da sua permanência em João Pessoa, na época
que cursava o Mestrado, conserva boas amizades e aqui lançou livros de poesia
na Galeria Gamela. Durante a realização do I CONALI – Congresso Nacional de
Literatura (3, 4, 5 e 6 de junho), a escritora lançará dois livros – Luares para o Amor não naufragar (poesia)
e Alzirinha (literatura infantil).
Em 2005, no dia 8 de março, data
consagrada à mulher, a escritora recebeu a Comenda Dra. Nise da Silveira,
outorgada pelo Governo do Estado de Alagoas.
Esse prêmio representou o coroamento de uma vida dedicada à literatura e
às causas sociais e femininas.
Na poesia e na prosa, Arriete se
revela uma artista múltipla. Muitos dos seus livros denotam a preocupação com o
fazer literário, a luta com as palavras. Em outros, evidenciam-se as memórias
da infância, as reminiscências do passado, a preocupação com os aspectos
sociais. São textos sempre cheios de ternura e de muita dor.
Alzirinha
(2012) não é a primeira incursão da autora no reino infantil, há outros
livros que trazem a infância para o universo ficcional e lembramos Grande baú, a infância (2009), reunião
de 28 contos. Cada conto se inicia com a epígrafe de uma cantiga de roda.
Nos poemas, contos, crônicas, romance
e literatura infantil, a palavra é a âncora que guia o destino do texto. No seu
fazer literário, constata-se a busca pela perfeição da linguagem, pela palavra
capaz de “ser argamassa para assentar a alvenaria”. É uma escritora/artesã das
palavras.
Luares
para o Amor não naufragar (2012) é um livro de pequeno formato,
lembrando-nos telas de tamanho reduzido.
Como um trabalho meticuloso de um pintor, a poeta vai tecendo os fios
das palavras e os poemas vão brotando como as flores da primavera. São 45 poemas
que falam de amor, de paixão e de silêncio.
Sente-se a presença da intratextualidade e alguns poemas dialogam com
outros textos da autora. Esses versos comprovam as rendilhas de suas próprias
palavras: “Faço de mim/ um mosaico de textos e subtextos” (Poema 26, p.45).
Alzirinha
(2012), primeiro livro totalmente dedicado à infância, conta a história de
uma menina que conviveu de modo muito fraterno com o avô Luiz e com a avó Zizi.
O livro é rico em diálogos.
Alzirinha está descobrindo o mundo e vovô Luiz, o fazedor de brinquedos, estava
sempre construindo alguma coisa nova para os netos. Os brinquedos não tinham o
requinte dos brinquedos das lojas especializadas, mas “carregavam uma tal
afetividade que as crianças ficavam absolutamente fascinadas”. (p. 13)
E as histórias contadas por vovô
Luiz? Ah! Geralmente eram histórias tiradas de dentro do livro. Os livros
vinham emprestados da biblioteca do colégio das freiras ou adquiridos na
Livraria Castro Alves, e a menina sentia que, muitas vezes, as histórias
contadas não estavam dentro do livro,
estavam na boca do avô. Estas tinham um encanto especial, vovô Luiz era mesmo
um avô “ideoso”.
Na última página do livro, vem esta revelação:
“Alzira Freire, nos seus quase 50
anos, ainda tem muito de Alzirinha. Pode parecer estranha a quem não possui
imaginação, mas é uma das pessoas mais interessantes que conheço”. (p.62)
O
mais deixo para o leitor descobrir.
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