segunda-feira, 26 de agosto de 2013

"Literatura não é Teoria, é Paixão" T. Todorov

A A A
Sophie Bassouls/ Sygma/ Corbis

O filósofo e linguista Tzvetan Todorov:  "As crianças não têm ideia da riqueza que podem encontrar num livro porque ninguém mostrou a elas"
Nascido em 1939 em Sófia, na Bulgária, e naturalizado francês, o filósofo e linguista Tzvetan Todorov é um dos mais importantes pensadores do século 20. Traduzida para mais de 25 idiomas, sua obra inspira críticos literários, historiadores e estudiosos do fenômeno cultural do mundo todo. Em seu mais recente livro publicado no Brasil, A Literatura em Perigo, Todorov faz um mea culpa raro entre intelectuais. Ele diz que estudos literários como os seus, cheios de "ismos", afastaram os jovens da leitura de obras originais - dando lugar ao culto estéril da teoria. De Paris, ele falou a BRAVO! por telefone:

BRAVO!: Gostaria que o sr. falasse sobre o seu primeiro contato com a literatura quando criança, e como ela se transformou em uma paixão.
Tzvetan Todorov: Eu cresci na Bulgária durante a Segunda Guerra, quando quase ninguém vivia em Sófia, sob constante bombardeio. A maior parte da população vivia fora da capital, em apartamentos divididos por várias famílias. Dentro da coletividade em que habitávamos, havia um especialista em literatura. Foi ele que me ensinou a ler, antes que eu atingisse a idade escolar. Ele me incentivou a praticar a leitura nos livros infantis, e logo comecei a gostar dos contos populares. Apreciava especialmente as histórias dos irmãos Grimm e As Mil e Uma Noites. Essas obras faziam minha alegria. Eu já tinha um sentimento do enriquecimento pessoal que o contato com a ficção podia proporcionar.
Por que o contato com a ficção é tão importante?
Os livros acumulam a sabedoria que os povos de toda a Terra adquiriram ao longo dos séculos. É improvável que a minha vida individual, em tão poucos anos, possa ter tanta riqueza quanto a soma de vidas representada pelos livros. Não se trata de substituir a experiência pela literatura, mas multiplicar uma pela outra. Não lemos para nos tornar especialistas em teoria literária, mas para aprender mais sobre a existência humana. Quando lemos, nos tornamos antes de qualquer coisa especialistas em vida. Adquirimos uma riqueza que não está apenas no acesso às idéias, mas também no conhecimento do ser humano em toda a sua diversidade.
E como fazer para que as crianças e os jovens tenham acesso a esse conhecimento tão importante?
A escola e a família têm um papel importante. As crianças não têm idéia da riqueza que podem encontrar em um livro, simplesmente porque eles ainda não conhecem os livros. Deveríamos então ser iniciados por professores e pais nessa parte tão essencial de nossa existência, que é o contato com a grande literatura. Infelizmente, não é bem assim que as coisas acontecem.
Por quê?
Quando nós professores não sabemos muito bem como fazer para despertar o interesse dos alunos pela literatura, recorremos a um método mecânico, que consiste em resumir o que foi elaborado por críticos e teóricos. É mais fácil fazer isso do que exigir a leitura dos livros, que possibilitaria uma compreensão própria das obras. Eu deploro essa atitude de ensinar teoria em vez de ir diretamente aos romances, por que penso que para amar a literatura - e acredito que a escola deveria ensinar os alunos a amar a literatura - o professor deve mostrar aos alunos a que ponto os livros podem ser esclarecedores para eles próprios, ajudando-os a compreender o mundo em que vivem.
Ao comentar esse assunto no livro, o sr. fala em "abuso de autoridade". Poderia explicar melhor?
É um abuso de autoridade na medida em que é o professor quem decide mostrar aos alunos o que é importante, com base em um programa definido previamente pelo Ministério da Educação. E isso é sempre uma decisão arbitrária. Não temos o direito de reduzir a riqueza da literatura. O bom crítico - e também o bom professor - deveria recorrer a toda sorte de ferramentas para desvendar o sentido da obra literária, de maneira ampla. Esses instrumentos são conhecimentos históricos, conhecimentos linguísticos, análise formal, análise do contexto social, teoria psicológica. São todos bem-vindos, desde que obedeçam à condição essencial de estar submetidos à pesquisa do sentido, fugindo da análise gratuita.
Como conciliar esse desejo de liberdade num sistema em que o professor tem que atribuir notas, como ocorre no Brasil e na França?
Acredito que o essencial é escolher obras literárias que sejam, por sua complexidade e temas, acessíveis à faixa etária a que se destinam. Cabe ao professor mostrar o que esses livros têm de enriquecedor para os alunos, levando em consideração a realidade deles. O importante é não ter medo de estabelecer pontos em comum entre o presente dos alunos e do sentido dos livros.
O escritor italiano Umberto Eco fala que o livro, ao lado da cadeira, é o objeto de design mais perfeito criado pela humanidade. Num momento em que se questiona isso, o senhor vê futuro para o livro?
É verdade que hoje lemos muito diante da tela, mas não acho que o livro vá desaparecer. Ele estabelece uma relação de possessão e de interiorização que nós não podemos estabelecer com algo tão imaterial quanto o texto na tela do computador. Claro que eu mesmo, quando busco uma referência, o faço facilmente diante da tela. Mas se eu desejo me embrenhar em um livro, se eu quiser me render a seu interior, é preciso que seja com o objeto "livro". A isso ele se presta maravilhosamente.

O LIVRO A Literatura em Perigo, de Tzvetan Todorov. Difel, 96 págs., R$ 25.
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sábado, 17 de agosto de 2013

Palestra sobre D. Quixote: hoje, dia 17, no Hotel Brisa Tower



O pesquisador espanhol Xoán Calviño, do Instituto Cervantes, fará uma palestra sobre a obra D. Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes.

Quando:   Hoje, sábado, dia 17
Hora:        16h
Onde:        Hotel Brisa Tower  (praia de Jatiúca)

Realização:  Oficina de Leitura e Escrita Criativa

Apoio Cultural :  Academia Alagoana de Letras
e   Hotel Brisa Tower

O melhor jeito de dizer adeus

O MELHOR JEITO DE DIZER ADEUS
(última Carta da Redação da revista Bravo - agosto/2013)

A Flip e demais festas literárias que se espalham pelo Brasil são a prova: escrever com desenvoltura e originalidade não significa necessariamente ter aptidão para dar conferências, mediar debates ou mesmo jogar conversa fora num boteco. Nem todos os romancistas, poetas e contistas dominam a narrativa oral. O português José Saramago certamente não pertencia à turma dos ruins de papo. Em geral, quando decidia enfrentar uma palestra ou entrevista, assumia contornos de Sherazade e discorria sobre inúmeros temas de maneira hipnótica. Quem o escutava saía da experiência quase sempre maravilhado. Como mostra a reportagem que ganhou a capa desta edição, Saramago discursou para uma seleta plateia de intelectuais na primavera de 1998, em Turim.

Durante mais ou menos uma hora, relembrou os antepassados, reviu a própria carreira e identificou diferenças entre os livros que publicou – tudo de improviso, com graça e clareza desconcertantes. O pronunciamento, transcrito, resultou em 28 páginas.

O fim da apresentação recuperava uma história que o literato já contara outras vezes e que continua me emocionando. Quando beirava os 73 anos, Jerónimo, o avô materno de Saramago, sofreu um acidente vascular cerebral. O infortúnio não parecera tão grave de início, mas depois se revelou preocupante. O médico recomendou, então, que o paciente abandonasse a aldeia onde morava e se internasse num hospital de Lisboa. Jerónimo – um homem rude, analfabeto, que criava porcos – dividia com a mulher uma casa simples, de apenas dois cômodos e chão de barro. No quintal, plantara umas quantas oliveiras, figueiras e pereiras. Mal a carroça que o levaria à estação ferroviária chegou, o velho, pressentindo que não retornaria, saiu do casebre e abraçou cada uma das árvores. Não emitiu nenhuma palavra. Somente chorou baixinho e enlaçou a minúscula floresta.

O episódio me impressiona sobretudo pela contenção. Para se despedir dos seres mansos e quietos que lhe encheram os dias de sentido, o camponês optou por um gesto igualmente manso e quieto. Não lamentou o rumo que as coisas tomaram, não amaldiçoou as transformações que presenciava nem as que deixaria de presenciar, não fez elogios às árvores, não recordou os bons momentos que compartilharam. Resignou-se em dizer tudo o que gostaria sem dizer nada. Ironicamente, tempos depois, o neto de Jerónimo se notabilizaria justo pelo contrário: pela necessidade incontornável de atar a vida às palavras. Não quaisquer palavras, é claro, mas ainda assim palavras – e copiosas, fluidas, abrangentes.

Ocorre que, em determinadas circunstâncias, atitudes semelhantes às do avô têm impacto maior que posturas como as do neto. Há despedidas que não encontram tradução. O que falar diante de um amigo que se muda para bem longe, um amor que morre, um projeto querido que se interrompe? Às vezes, o melhor – o mais preciso e eloquente – é dar adeus em silêncio.

Armando Antenore
Redator-chefe

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Paletras: hoje, Camões; amanhã, D. Quixote


Xoán Calviño e alguns integrantes da Oficina de Leitura e Escrita Criativa

Palestra sobre Camões

O pesquisador espanhol Xoan Calviño, do Instituto Cervantes, fará uma palestra sobre Camões.

Quando:   Hoje, sexta-feira
Hora:        19h30m
Onde:        Hotel Brisa Tower  (praia de Jatiúca)

Realização:  Oficina de Leitura e Escrita Criativa
Apoio Cultural :  Academia Alagoana de Letras

e   Hotel Brisa Tower

Palestra sobre D. Quixote


O pesquisador espanhol Xoan Calviño, do Instituto Cervantes, fará uma palestra sobre a obra D. Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes.

Quando:   Sábado, dia 17
Hora:        16h
Onde:        Hotel Brisa Tower  (praia de Jatiúca)

Realização:  Oficina de Leitura e Escrita Criativa
Apoio Cultural :  Academia Alagoana de Letras
e   Hotel Brisa Tower



            Coffee break:  R$ 18,00 (dezoito reais)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

I CONCURSO DE CONTOS ARRIETE VILELA / PET / UFAL

FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL
EDITAL Nº (02/13) / Programa de Educação Tutorial/Letras e Fale - Ufal
A FACULDADE DE LETRAS (FALE) E O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL DO CURSO DE LETRAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS (PET LETRAS), no uso de suas atribuições, tornam pública a abertura das inscrições para o I CONCURSO DE CONTOS ARRIETE VILELA.

1. Das disposições preliminares
1.1 O I CONCURSO DE CONTOS ARRIETE VILELA é um evento do PET Letras Ufal, com o apoio da Faculdade de Letras, que integrará a programação da VI Semana de Letras, que acontecerá em Setembro de 2013. A proposta é realizar um concurso, de caráter competitivo, em que os alunos da graduação em Letras, da referida Universidade, poderão inscrever um conto, escrito em Língua Portuguesa, independente da obra já ter sido publicada. O objetivo é estimular a produção literária dos alunos do curso e divulgar esses trabalhos.

2. Das inscrições
2.1 As inscrições no I CONCURSO DE CONTOS ARRIETE VILELA são gratuitas e devem ser feitas por meio do encaminhamento da obra à Comissão Organizadora.
2.2 Os interessados deverão se encaminhar à Secretaria da Faculdade de Letras, situada na Faculdade de Letras, no campus A.C. Simões, no horário de 10h às 16h, de segunda a quinta-feira, exceto feriados. Entre os dias 12 de Agosto e 13 de setembro de 2013.
2.3 Cada concorrente poderá inscrever no máximo uma obra.
2.4 O trabalho inscrito deverá se no gênero conto da autoria da pessoa inscrita, apresentado na modalidade impressa, utilizando, ou não, recursos em outras mídias.
2.5 O conto não precisa ser inédito.
2.6 Os originais devem ser enviados em 3 (três) vias impressas e/ou em outros suportes midiáticos, com folha de rosto na qual deverão constar o título da obra e o pseudônimo do autor.
2.7 Em envelope lacrado, em anexo, deverão ser enviados os dados do autor: pseudônimo, nome, data de nascimento, título da obra, comprovante de matrícula, endereço completo, telefone, e-mail e currículo resumido.
2.8 Uma versão em word deve ser enviada via e-mail para o endereço ufal.semanadeletras@gmail.com.
2.9 Os trabalhos inscritos serão expostos na Expoletras, exposição que integrará a VI Semana de Letras.

3. Das condições de participação
3.1 Poderão inscrever-se apenas alunos devidamente matriculados no curso de Letras da Ufal.
3.2 Os documentos e originais das obras não serão devolvidos.
3.3As obras deverão ser encaminhadas obrigatoriamente sob pseudônimos, não podendo conter nos originais ou nos envelopes nada que identifique os autores.
3.4 Na folha de rosto de cada cópia deverão constar obrigatoriamente o nome I CONCURSO DE CONTOS ARRIETE VILELA, o título da obra e o pseudônimo do autor.
3.5 É de responsabilidade exclusiva do autor a observância e regularização de toda e qualquer questão relativa à originalidade da autoria e demais disposições deste Regulamento.

4. Dos julgamentos dos trabalhos inscritos
4.1 As obras inscritas serão analisadas por uma Comissão Julgadora composta por um aluno do Programa de Pós- Graduação em Letras e Linguística da Ufal, um professor convidado da graduação e um escritor local.
4.2 A Comissão Organizadora não terá participação no julgamento das obras e nem interferirá no processo de avaliação da Comissão julgadora.
4.3 A comissão julgadora é soberana e não caberão recursos às suas decisões.
4.4 Caberá à organização do Concurso: receber as obras inscritas, conferir a documentação exigida, organizar todo o processo de distribuição das cópias das obras para os membros da Comissão Julgadora, providenciar a divulgação do resultado do Concurso e solucionar quaisquer controvérsias ou pendências advindas da realização do Concurso, inclusive aquelas decorrentes de omissões deste Regulamento.

5. Da premiação
5.1 O autor que tiver o seu trabalho escolhido terá como premiação as obras vencedoras e publicadas do último PRÊMIO LEGO, realizado pela Faculdade de Letras.
5.2 O conto vencedor será publicado no Suplemento Saber, do Jornal Gazeta de Alagoas.
5.3 Os demais contos inscritos serão publicados posteriormente no site do PET (www.petletrasufal.com).
5.4 O autor receberá uma declaração emitida pela Comissão organizadora atribuindo-lhe a autoria do trabalho vencedor.

6. Dos resultados
6.1 A divulgação do resultado deste concurso ocorrerá dentro da programação da VI Semana de Letras como parte integrante da programação do evento no dia 27 de setembro de 2013.
7. Disposições gerais

7.1 Ao se inscrever no I CONCURSO DE CONTOS ARRIETE VILELA, o candidato estará automaticamente concordando com os termos deste edital.

Maceió, 10 de agosto de 2013.
Comissão Organizadora:
Núbia Faria (PET Letras)
Dayanne Teixeira (PET Letras)
Karlos Eduardo (PET Letras)
Pedro Araújo (PET Letras)
Rafael Albuquerque (PET Letras)
Natália Momberg (PET Letras)
Marília Dantas (PET Letras)
Mariana dos Santos (PET Letras)
Jéssica Gonçalves (PET Letras)
Adriely Andrade (PET Letras)
Elson Nelson (PET Letras)
Gustavo Félix (PET Letras)
Beatriz Nogueira (PET Letras)
Estêvão dos Anjos (PET Letras)
Marcus Vinícius (Faculdade de Letras/UFAL)

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Quem tem medo de Hilda Hilst?


Maria Carolina Maia
É sem meias palavras que Cristiano Diniz, organizador de Fico Besta quando me Entendem(Globo Livros, 236 páginas, 44,50 reais), seleção de vinte entrevistas dadas por Hilda Hilst ao longo da carreira, defende a escritora da fama de difícil e impenetrável que a envolve há décadas. “Difícil para quem? É claro que, se for alguém que só leia Sabrina ou algo parecido, vai achar Hilda difícil, como achará Clarice Lispector e Guimarães Rosa.”
Para Diniz, as entrevistas, agora selecionadas e reunidas em livro, são um bom caminho para desmitificar e perder o medo de Hilda Hilst. “No acervo de Hilda na Unicamp, há muitas cartas de leitores que apontam isso: começaram a consumir a poesia ou a prosa de ficção logo após ler uma entrevista da autora”, conta o organizador, que trabalhou no Cedae (Centro de Documentação Cultural “Alexandre Eulalio”), localizado no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp (Universidade de Campinas). “Ao se compreender parte de seu pensamento, podemos, sem dúvida, ler Hilda de maneira diferente.”
Se não desmitificam, as entrevistas atraem. Pintam o retrato de uma escritora corajosa e obstinada, que ainda jovem, na casa dos 30 anos, deixou a vida boêmia de São Paulo para viver em uma eterna residência literária no interior do estado. Ao lado do marido, Dante Casarini, Hilda se instalou em um sítio em Campinas, a Casa do Sol, onde passou a trabalhar diariamente em sua literatura. Também lia, e muito. Lia de tudo –- de ficção à física, que usou em experiências transcendentais com vozes que dizia de outro mundo, passando pela filosofia mais heavy metal.
Cristiano Diniz não conheceu Hilda pessoalmente, mas conheceu a imensa personagem que se ergue das mais de cem entrevistas dadas pela vida. E, claro, conheceu a sua obra, que, para ele, não está sendo redescoberta, como dizem. “A distribuição melhorou a partir de 2002, quando então Hilda se tornou mais popular”, diz ele. “Lá se vão, certamente, mais de dez anos. Já podemos deixar de falar em ‘fase’ e falar em permanência do interesse por sua literatura.”
Confira abaixo trechos do livro e cinco perguntas a Cristiano Diniz.

Hilda por Hilda

1 de 8

Sobre a poesia feminina

A poetisa tomou um gole de uísque. Tomamos nossa água tônica e voltamos a assediá-la, agora a propósito da poesia feminina. Os poemas de Presságio, mesmo que não trouxessem o nome de quem os compôs, revelavam autoria feminina. Que achava a poetisa do assunto? Existe uma poesia feminina diferente da masculina?
HH: A poesia feminina existe, mas nem sempre é de autoria masculina... A ideia que tenho quando digo “poesia feminina” é de pieguice, porque as mulheres quase sempre são “derramadas” e de uma suavidade irritante quando escrevem poemas. Já a poesia de Cecília Meireles, por exemplo, não pode ser chamada de feminina, porque ela é forte e potente. Cecília nunca poderá ser chamada poetisa, mas sim poeta.
(entrevista de 1952 ao Jornal de Letras, do Rio de Janeiro)
 
Como foi a organização de Fico Besta quando me EntendemO primeiro passo (a pesquisa, o levantamento das entrevistas) foi relativamente curto porque, quando a editora Globo me convidou para fazer a seleção, eu organizava o acervo de Hilda Hilst no Cedae (Centro de Documentação Cultural “Alexandre Eulalio”), localizado no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp (Universidade de Campinas), e por fazer esse trabalho já tinha conhecimento de várias entrevistas da escritora. É claro que nem todas as entrevistas que ela deu estavam no Cedae e eu tive que fazer pesquisas em outros locais para preencher lacunas. Então, entre essa etapa e as leituras, releituras e anotações, em pouco mais de um ano a seleção estava feita. O critério foi reunir entrevistas que não se reduziam à publicidade de algum livro ou peça de teatro de Hilda. Em linhas gerais, o objetivo foi ter entrevistas que explorassem mais de perto a experiência pessoal da escritora, sua visão de mundo, da sociedade, da política, da literatura contemporânea e dos sujeitos que compõem essas esferas.
Hilda Hilst fala, em uma das entrevistas de Fico Besta, que escritores são diferentes, percebem e sentem coisas que os outros não sentem. Você concorda? Ou dizer isso era uma maneira de ela se valorizar nas entrevistas? Esta fala de Hilda mostra uma visão sobre o papel do escritor e, por extensão, da literatura. De qualquer maneira, diria que é o leitor que determina que um escritor possua uma percepção “diferente” dos demais. E aqui há um tema interessante para falar das entrevistas: não encontrei nenhuma que explorasse Hilda Hilst como leitora. É uma pena porque Hilda leu muitos autores interessantes de vários campos do conhecimento. É como se o estar diante de uma escritora anulasse o estar diante de uma leitora. É claro que Hilda se incluía entre os escritores “diferentes”, pois tinha muita clareza do que pretendia com a sua literatura, acho que as entrevistas mostram um pouco dessa face, no entanto, me parece que quando ela falava “que escritores são diferentes” era mais do ponto de vista de leitora do que qualquer outra coisa.
Hilda Hilst é mesmo uma autora difícil ou essa é uma imagem que ela criou para si?Acho que se há uma imagem que Hilda lutou para desfazer foi justamente a de ser uma escritora difícil. Mais uma vez, entramos no campo do leitor. Difícil para quem? É claro que, se for alguém que só leia Sabrina ou algo parecido com isso, vai achar Hilda difícil, como achará Clarice Lispector e Guimarães Rosa, por exemplo.
Em que medida ouvir Hilda falar de sua obra ajuda a compreendê-la (ou mitificá-la)?Acho que o conjunto de entrevistas ajuda a compreender o pensamento de Hilda, não sua literatura, pelo menos não de forma direta. Por outro lado, ao se compreender parte de seu pensamento, podemos, sem dúvida, ler Hilda de maneira diferente.
Se você pudesse entrevistar Hilda Hilst, que pergunta faria para ela? Como é a Hilda leitora?
A obra de Hilda Hilst vive uma fase de descoberta dentro e fora do Brasil? Em minha opinião, é uma “fase” que está durando bastante tempo. Certamente, mais de dez anos. Já podemos falar em permanência do interesse em torno de sua literatura. Relaciono-a com a mudança na divulgação da obra hilstiana realizada pela publicação das Obras Reunidas de Hilda Hilst pela editora Globo. O trabalho teve início em 2002, recolocando no mercado editorial títulos que eram verdadeiras raridades e os distribuindo de uma maneira que Hilda ainda não tinha visto. Foram seis anos de lançamentos para disponibilizar todo o conjunto. Durante esse processo, por exemplo, o interesse da crítica acadêmica aumentou vertiginosamente e assim continua, sem parar em nenhum momento nos últimos dez anos. Hoje, o número de teses, dissertações e monografias passa da casa dos 100. Até 2002, eram apenas 15 trabalhos. O número de peças adaptadas dos livros de Hilda também não parou. O livro A Obscena Senhora D acaba de ser traduzido para o inglês. Temos Fico Besta quando me Entendem divulgando uma Hilda que muitos dessa “fase de descoberta” ainda não conheciam. Um documentário em execução e um roteiro para um filme de ficção sobre ela em andamento. A inauguração do teatro no Instituto Hilda Hilst e o aumento do número de artistas residentes que tem passado por ali.
Por que, na sua opinião, Hilda Hilst foi descoberta tão tardiamente? Hilda sofreu com a distribuição de seus livros durante toda a vida. Talvez uma das raras exceções seja o volume publicado pela Editora Perspectiva em 1970: Fluxo-Floema. Depois de 2002, os livros de Hilda começaram a circular de uma maneira antes nunca vista.

Quem escreve e quem lê...


Tirinha brinca com a história de "Dom Casmurro", de Machado de Assis, ao "resolver" o problema de Bentinho...


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Frases sobre o ofício de escrever

ESCRITORES – QUARENTA FRASES SOBRE O OFÍCIO

Karl Kraus
– É preciso sempre escrever como se fosse a primeira e a última vez. Dizer tanto como se fosse uma despedida e tão bem como se fosse uma estreia. (Karl Kraus)

– A primeira condição de quem escreve é não aborrecer. (Machado de Assis)

– A maior parte do tempo de um escritor é passado na leitura, para depois escrever; uma pessoa revira metade de uma biblioteca para fazer um só livro. (Samuel Johnson)

– Só se pode julgar um escritor deppois de terem morrido todos os críticos de sua época. (Sofocleto)

– Há escritores que escrevem literatura. Outros só conseguem escrever escrita. (Raymond Chandler)

Alain Robbe-Grillet
– É a maior satisfação que um autor pode ter, um diálogo intimo com um leitor desconhecido. É o que sinto em passagens de Joyce, Dostoiévski e outros favoritos, a impressão de que eles escreveram aquilo exclusivamente para mim.(Paulo Francis)    

– O verdadeiro escritor não tem nada a dizer. O que conta é o modo que ele diz. (Alain Robbe-Grillet)

– Quando os escritores morrem, eles se transformam nos seus livros. O que, pensando bem, não deixa de ser uma forma interessante de reencarnação. (Jorge Luis Borges)

– Ultimamente, as palavras estão tomando uma surra dos escritores. (John Fowles)

Mikhail Bulgakov
– Se um escritor quisesse demonstrar que a liberdade não lhe é necessária, pareceria um peixe querendo convencer-nos de que a água não lhe é útil. (Mikhail Bulgakov)

– Quando comecei a escrever ficção, não levava o menor jeito para a coisa. Não sabia como fazer uma personagem entrar ou sair de uma sala. Se ela tirava o chapéu ao entrar, esquecia-se de pegá-lo ao sair. Se eu pusesse duas pessoas para conversar em um quarto, uma delas não podia sair viva. (Raymond Chandler)

– Se quiser ficar rico escrevendo, escreve o tipo de coisa que é lida por pessoas que movem os lábios ao ler. (Don Marquis)

– Se um jovem escritor conseguir abster-se de escrever, não deveria hesitar em fazer isso. (André Gide)

– Conhecia as regras de escrever, sem suspeitar as do amar; tinha orgias de latim e era virgem de mulheres. (Machado de Assis)

Virginia Wolff
– Um escritor chega à velhice quando suspeita que o artigo que está a escrever já tinha sido escrito por ele no passado.(R. Gómez de la Serna)

– O escritor está sempre trabalhando em um livro, mesmo quando não está escrevendo. (Antonio Callado)

– Um grande escritor sempre traz consigo seu mundo e sua prédica. (Albert Camus)

– Quase sempre os escritores descrevem ações brilhantes com versos lamentáveis. (Horácio)

– O mais belo triunfo do escritor é fazer pensar os que podem pensar. (Eugène Delacroix)

– Quando se diz que um escritor está na moda, isso quer dizer que ele é admirado por menores de trinta anos. (George Orwell)

– Algumas pessoas escrevem tão bem que eu tenho vontade de devolver minha pena para o ganso. (Fred Allen)

– Na literatura, convém acautelar-se contra os charlatões da construção da frase. Suas casas recebem primeiro janelas e depois paredes. (Karl Kraus)

– Alguns escritores costumam levar um não de inúmeros editores antes de decidir que vão escrever para a posteridade. (George Ade)

– Quando um escritor se transforma num clássico, já não há necessidade de lê-lo: basta citá-lo. (R. Gervaso)

– Os grandes escritores nunca foram feitos para se submeter à lei dos gramáticos, mas para imporem a sua. (Paul Claudel)

Thomas Mann

– A felicidade do escritor é o pensamento que consegue transformar-se completamente em sentimento, é o sentimento que consegue transformar-se completamente em pensamento. (Thomas Mann)

– O escritor original, enquanto não está morto, é sempre escandaloso. (Simone de Beauvoir)

– Não há ninguém que abomine mais um autor do que outro autor. Um autor só é solidário com outro no velório do concorrente. (Nelson Rodrigues)

– Os escritores superficiais, como as toupeiras, julgam frequentemente serem profundos, quando estão, no entanto, demasiadamente perto da superfície. (William Shenstone)

– O escritor escreve porque não pode agir, e assim vive as experiências de forma indireta – vicária. (Mário Vargas Llosa)

– Utilizar palavras incomuns é uma descortesia literária. Só se deve colocar no caminho do público dificuldades intelectuais. (Karl Kraus)

Paulo Francis
– O ego dos escritores é muito maior do que o dos atores, porque atores são humilhados em ensaios e, no seu egoísmo, repassam um pouco do ego na camaradagem dos companheiros. Ao passo que o escritor trabalha sozinho. Apanha também, mas a sós, é uma experiência masturbatório-masoquista. E, no fim das contas, é o maior confronto que se pode ter com a realidade. (Paulo Francis)   

– O escritor original não é aquele que não imita ninguém, mas sim aquele que ninguém pode imitar. (François René)

– Os escritores superficiais, como as toupeiras, julgam frequentemente serem profundos, quando estão, no entanto, demasiadamente perto da superfície. (William Shenstone)

– Instruir e divertir os povos deve ser o empenho dos escritores; os mais hábeis são os que instruem divertindo. (Marquês de Maricá)

– Um escritor não lê os seus colegas: vigia-os. (Maurice Chapelan)

– As passagens dos textos de Shakespeare em que a linguagem é áspera, vulgar, exagerada, fantástica e mesmo obscena – e há muitas – devem-se inteiramente ao fato de que a vida exige um eco para a sua própria voz e recusa a intervenção do estilo bem-construído a que ela precisa se submeter para encontrar expressão. (Oscar Wilde)

Raymond Chandler
– James Joyce escrevendo me lembra um colegial repugnante espremendo espinhas. (Virgínia Wolff)

– Solzhenitsyn escreve mal e é um idiota. Uma combinação irresistível para torná-lo popularíssimo nos Estados Unidos. (Gore Vidal)

–  A melhor literatura é sempre produzida por quem não depende dela para viver: a mais elevada forma de literatura, a poesia, não enriquece quem a escreve. (Oscar Wilde)

D. Quixote de la Mancha


A Oficina de Leitura e Escrita Criativa realizará, neste mês de agosto, algumas atividades que marcarão o término da leitura de D. Quixote de la Mancha, de Cervantes, tais como: apresentação (pelos participantes da Oficina) e debate de alguns temas do romance; conversa com Camila Cavalcanti sobre o conto "Pierre Menard, autor do Quixote", de Borges; palestra da profa. ms. Elaine Raposo sobre a narrativa de D. Quixote; exibição de filmes – El Cid e Excalibur – e palestra do pesquisador espanhol Xóan Calvino, do Instituto Cervantes.

Apoio Cultural:

Hotel Brisa Tower

Academia Alagoana de Letras