domingo, 13 de novembro de 2011

Manias literárias

Raimundo Carrero, autor de O amor não tem bons sentimentos – “Só tenho um hábito quando escrevo: rezo. Como todo bom sertanejo, acredito no Espírito Santo e faço minhas orações. Em geral, não preciso de horários ou circunstâncias. É claro que costumo acordar muito cedo para escrever. E estou sempre fazendo alguma coisa. Ando com uma agenda onde faço anotações. Agora mesmo estou escrevendo um Diário da Criação onde informo tudo o que acontece comigo no plano literário: personagens, cenas, cenários, diálogos, e adianto as informações técnicas: por que uso um diálogo direto ou indireto, qual a necessidade de uma cena – rapidez – ou de um cenário – lentidão. Explico a função e o efeito. Enfim, revelo as estratégias para escrever uma novela. Faço tudo com muitos detalhes. Prefiro acreditar no trabalho obstinado. Não conheço domingos, feriados ou dias santos: trabalho e trabalho e trabalho. Sempre.”

Fabrício Carpinejar, autor de Canalha! – “Não consigo escrever sem camisa. É como desrespeitar a imaginação. Eu me sinto travado. Meu melhor período é de manhã. Na tarde, leio outros livros. Na noite, reviso meus originais. Eu me sustento com café. Fico isolado no fundo do pátio, num bunker, artefando a linguagem. Sou disciplinado. Na hora de algum bloqueio, faço faxina da grossa, com detergente e enceradeira. Volto cansado ao computador, sem vontade de mentir. Rabisco caderninhos, mas são os apontamentos que nunca leio. Adivinho o que escrevi lá. Os filhos não me atrapalham, podem conversar e perguntar que mantenho a costura da pele.”

João Gilberto Noll, autor de Acenos e afagos – “Gosto de escrever de manhã cedo. Me parece que é meu melhor impulso venha desse horário. É a cabeça mais vazia, muito mais propícia para um arranque em direção a um certo inconsciente.”

Marcelino Freire, autor de Rasif – “Não tenho hora para escrever. Sempre estou atrasado. Paro em frente ao computador só quando a frase não pode mais esperar. Guardo a coisa até estourar. Algo que ouvi na rua, algum som que catei na TV. A partir dessa primeira faísca é que vou contando/cantando a história, sem saber aonde ele vai dar, às cegas. Não acendo incensos. Para não afastar os fantasmas. Não posso ouvir música. Tenho de estar em silêncio. Todo concentrado para a palavra – uma vez que ela, repito, é o meu guia. Neste escuro, neste abismo e maravilha! Quando pego o ritmo, a voz do personagem. Quando sei que não mais o perderei de vista. Dou um breque. Uma paradinha e pego uma cerveja. Uma só, para não ficar bêbado. Não consigo escrever embriagado. Tudo em mim tem de estar ligado . Sóbrio e afinado. Para ouvir, sem intermediários e sem atrapalhos, o que eu tenho a dizer. Sempre cercado de dicionários. Palavras de todo tipo. Essa é minha ladainha. O resto, amigo, sai na purpurina. E tenho dito.”

Cem escritores brasileiros e suas manias quando escrevem
(Site do escritor Michel Laub)

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