quinta-feira, 23 de agosto de 2012
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
Um poema de Marina Colasanti
Frutos e Flores
Marina Colasanti.
Meu amado me diz
que sou como maçã
cortada ao meio.
Meu amado me diz
que sou como maçã
cortada ao meio.
As
sementes eu tenho
é bem verdade.
E a simetria das curvas.
Tive um certo rubor
na pele lisa
que não sei
se ainda tenho.
Mas se em abril floresce
a macieira
eu maçã feita
e pra lá de madura
ainda me desdobro
em brancas flores
cada vez que sua faca
me traspassa.
(Ilustração: Mihai Criste-Roménia.)
é bem verdade.
E a simetria das curvas.
Tive um certo rubor
na pele lisa
que não sei
se ainda tenho.
Mas se em abril floresce
a macieira
eu maçã feita
e pra lá de madura
ainda me desdobro
em brancas flores
cada vez que sua faca
me traspassa.
(Ilustração: Mihai Criste-Roménia.)
sábado, 18 de agosto de 2012
Nélida Piñon extrai do pessoal um saber sobre a humanidade
MARIA ESTHER MACIEL
ESPECIAL PARA A FOLHA
ESPECIAL PARA A FOLHA
As linhas entrecruzadas da palma de uma mão ocupam toda a capa de "Livro das Horas", de Nélida Piñon,
e já prefiguram imageticamente o que o leitor vai encontrar nas páginas do
volume.
Trata-se de um livro de memórias, feito de bifurcações,
entrelaçamentos e desvios, em que relatos memorialísticos se mesclam a
registros do cotidiano, reflexões esparsas sobre a literatura e referências
afetivas a vários autores.
Mas ao contrário do que se espera de uma escritora que sempre
prezou as narrativas densas e labirínticas, ela constrói uma obra porosa,
entrelaçando vários gêneros textuais: a autobiografia, o ensaio, a prosa de
ficção e a poesia. Disso resulta um texto leve mas consistente, no qual a
maturidade da linguagem se alia ao vigor da história de vida que o sustenta.
O olhar de Nélida sobre o passado é lírico e discreto. Nada de revelações
da intimidade própria ou alheia, nada de confidências. Se ela traz à tona fatos
de sua infância, comentários sobre livros de cabeceira, retratos de pessoas da
família e de amigos escritores (Clarice Lispector ocupa algumas páginas), o faz
de forma reservada.
Interessa-lhe, sim, extrair da experiência pessoal um saber sobre
a humanidade e o mundo. Não à toa, diz numa passagem do livro:
"Confidências, elípticas ou poéticas, são de minha alçada."
Essa opção pela discrição talvez possa frustrar os que buscam
detalhes privados da vida da autora ou das pessoas com quem ela conviveu.
Quem vai atrás de dados sobre a vida amorosa de Nélida terá que se
contentar com a singela declaração de amor que ela faz a Gravetinho, o cão que
lhe serve de companhia, descrito como "a alegria dos meus anos
maduros". Ou tentar, em vão, cavar nas entrelinhas e metáforas alguma
pista indiscreta que possa servir como uma revelação.
"Livro das Horas" registra também algumas experiências
coletivas de Nélida, como sua atuação contra a ditadura militar no país, ao
lado de outros intelectuais brasileiros. Pode ser lido, ainda, como um livro de
viagens.
Visitas à Galícia (terra do pai e dos avós maternos), temporadas
no sul de Minas e em Nova York, passeios pelas ruas de Salzsburgo, entre outras
experiências de deslocamento, compõem a cartografia afetiva do livro.
Ao que se somam as idas e vindas temporais do relato, sempre
moduladas pelo ritmo da memória e da imaginação da escritora. O presente
imediato convive o tempo todo com um passado mais ou menos próximo, ou muito
remoto. E, às vezes, o agora do mundo é rejeitado com veemência pela autora,
que deixa clara sua opção: "Pretendo ser arcaica, não fazer parte dos
tempos atuais". O que não deixa de causar incômodo aos que pertencem, por inteiro,
ao século 21. Mas disso ela tem plena consciência.
MARIA ESTHER MACIEL é escritora e
professora da UFMG. Publicou, entre outros, "O Livro dos Nomes"
(Companhia das Letras).
Do prof. Ronaldo Nobre Leão
Ninguém fica
imune à beleza da sua poesia... Sempre fica um verso, uma frase, uma palavra na
cabeça depois de lermos seus poemas. Alguns passam a fazer parte do nosso
imaginário para sempre. Tenho alguns versos seus que me acompanham pela vida
afora ..."como posso estender minha alma sobre pedras cobertas de
lodo?"... é uma dessa passagens inesquecíveis. Você não pode parar de
escrever versos, pois criou em nós uma necessidade de ler-te!Bjs
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Voz da Poesia - Affonso Romano de Sant'Anna
VOZ DA
POESIA
Affonso Romano de Sant’Anna
A poesia exige um silêncio abismal. E isto pode levar à vertigem.
Ou: a
poesia é quando se está à beira de si mesmo. Cair em si, sem se perder, ou
achar-se do outro lado de si mesmo. Isto exige perícia. Pois há que ouvir sons,
ruídos, mensagens que fluem também do lado de fora, no exterior.
Certa vez fiquei duas horas sobre as pedras do Arpoador, à toa, apenas ouvindo
o mar. O marulhar do mar. O marulhar da alma. É preciso uma certa ousadia para
se ouvir o nada. O nada é onde tudo começa. É de onde surge o a voz da poesia.
Estranha relação entre o eu e o mundo. O pessoal e social. Há que haver uma
orquestração. Não é de muita valia ficar chorando pelos cantos. O choro pessoal
ainda não é poesia.Tem que haver algo mais: converter-se em coro. Por isto a
voz do poeta é uma voz de utilidade pública. Quando não sabemos como dizer
certas coisas, pedimos a voz do poeta emprestada e entoamos uma verdade
simbólica.
Rainer Maria Rilke, poeta alemão, pediu emprestado um castelo para, isolado,
ouvir melhor o que os querubins lhe diziam.
Victor Hugo foi para as ruas e barricadas ouvir a voz de seu tempo.
Rimbaud, de repente, calou-se para sempre. Ficou mudo. Um zumbi perdido nos
desertos africanos. Sem voz.
Quando Orfeu soava seus versos as bestas mais ferozes se acalmavam e até as
pedras o entendiam. Como cada pássaro tem um canto especial, o poeta tem que
descobrir qual a sua voz interior. Não se pode cantar com a voz do outro. Claro
que alguns, na literatura e na vida, começam imitando o canto alheio. É um
aprendizado.
Camões ouvia Virgilio e Homero. João Cabral de Melo Nelo começou ouvindo Carlos
Drummond. Na música popular a mesma coisa: Dalva de Oliveira gerou Angela
Maria. Mas João Gilberto não pode cantar como Orlando Silva ou Nelson
Gonçalves. Ou vice-versa.
Cada qual no seu canto. Na sua voz.
E já que ouvir a voz interior é um risco, alguns a ouvem, e desesperam. Outros
tapam os ouvidos. Enchem sua vida de ruídos espetaculares.
O músico ( como o poeta) faz falar o espaço em branco. Faz falar o indizível.
Pausa é música. Música é pausa no ruído cotidiano. Música é a salvação do
ruído.
E como esse mundo ficou barulhento, meu Deus! E se poesia é voz oculta sob a
prosa, em certas épocas a voz do cantor e do poeta são perigosas. Eles fazem
falar o silêncio, o que foi calado, reprimido. As ditaduras nos dão estranhas
licões de poesia.
Repito: poesia exige um silêncio abismal.
Ler, escrever ou ouvir poesia é abismar-se.
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Livros: faróis
Os
livros podem emitir as mais tímidas luzes...
... até que se convertem em faróis que nos
salvam das mais obscuras tormentas.
De Ronaldo Nobre Leão
Imaginem a alegria que eu senti quando recebi esta
carta contendo um livro maravilhoso de poesia.
Sabe quem me mandou?
ARRIETE
VILELA!
Sim, ela mesma, a grande poeta alagoana que eu adoro. E ainda me chamou
de poeta...
Quem dera, amiga, ter o teu dom de escrever coisas lindas como esta:
"Espera ao menos que as lembranças
estejam puídas pelo esquecimento".
Grande Arriete Vilela! Obrigado, querida!
Quem dera, amiga, ter o teu dom de escrever coisas lindas como esta:
"Espera ao menos que as lembranças
estejam puídas pelo esquecimento".
Grande Arriete Vilela! Obrigado, querida!
Da entrevista de Hemingway à Paris Review
Da entrevista de Ernest Hemingway à Paris Review:
"Quanto melhores forem os escritores, menos falarão sobre o que eles mesmos escreveram. Joyce era um grandíssimo escritor, e ele só explicava o que estava fazendo para idiotas. Supunha-se que os outros escritores que respeitava seriam capazes de entender o que ele estava fazendo, ao lê-lo."
"Suponho que existam símbolos, já que os críticos estão sempre descobrindo algum. Se não se importa, não gosto de falar sobre eles, nem que me perguntem acerca deles. Já é bastante duro escrever livros e contos sem ser instado a também explicá-los. Além disso, acabaríamos tirando o emprego dos explicadores."
"...é muito ruim para um escritor falar sobre como ele escreve. Ele escreve para ser lido com os olhos; explicações ou dissertações não deveriam ser necessárias. Você pode ter certeza de que haverá muito mais coisas lá do que uma primeira leitura perceberá, e não é da competência do escritor ter de explicar o que fez, ou conduzir visitas guiadas através das paragens mais difíceis da sua obra."
("As entrevistas da Paris Review", volume 1, Companhia das Letras)
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