(...) Pedro Páramo é um romance para se ler e reler; e mesmo sendo breve tem leituras intermináveis. Juan Rulfo propõe o romance como signo. O texto começa realista e com um tom mais neutro e descritivo; com o passar dos episódios, a linguagem vai se tornando mais poética e os narradores vão se multiplicando e se contradizendo até que, por fim, o romance se torna fantástico.
A busca de Juan Preciado por seu pai Pedro Páramo, motivo central da narrativa, acaba se tornando mais uma entre dezenas de buscas de um romance onde todos buscam algo que não sabem onde encontrar, e que talvez nem mesmo tenham real consciência do que seja, agindo como que por inércia em um ambiente desolado e triste.
A construção do romance é bastante sutil e as mudanças de realidade são feitas lentamente. Não há precipitação alguma por parte de Rulfo; a transição e comunicação entre o real e sobrenatural, entre sonho e vigília, entre memória e recriação é sempre feita de modo a não dispersar a atenção do leitor da narrativa.
Como em um imenso quebra-cabeça, o texto de Juan Rulfo exige uma leitura atenta porque nada em seu universo se explica, e uma frase ou palavra de determinada página pode esclarecer ou cerrar a sugestão de dezenas de páginas anteriores.
Ao final da leitura, o leitor teve uma experiência única: tem-se a impressão de se ter atravessado um épico de 900 páginas e não escassas 130; e isso se deve ao fato de que o leitor é instigado a interpretar constantemente. E desde a primeira página.
Outra coisa curiosa: o livro não tem trama, roçando com o sutil universo do romance lírico. Começa-se acompanhando Juan Preciado; por um longo momento se vislumbra a infância de Páramo; fragmentos nos contam estórias de vários habitantes de participação episódica na trama; vozes são escutadas por Preciado, que passa a organizar o passado de várias das personagens; há um levante revolucionário; tem-se Suzana, que domina o final do romance. Desse modo, o que condensa e dá unidade ao romance é também uma busca: quem é Pedro Páramo? (...)
Vinicius Jatobá é jornalista cultural e mestre em Estudos de Literatura pela PUC-Rio.
sábado, 30 de abril de 2011
domingo, 24 de abril de 2011
sábado, 23 de abril de 2011
Os dez mais, de Cristóvão Tezza
Esta é, como diz Tezza, sua lista "lítero-afetiva" de dez livros que marcaram diferentes épocas de sua vida.
"A Chave do Tamanho", de Monteiro Lobato
"Lord Jim", de Joseph Conrad
"Angústia", de Graciliano Ramos
"Os Irmãos Karamázov", de F. Dostoiévski
"Antologia Poética", de Carlos Drummond de Andrade
"O Estrangeiro", de Albert Camus
"Cem Anos de Solidão", de Gabriel García Márquez
"Luz em Agosto", de William Faulkner
"O Senhor das Moscas", de William Golding
"Desonra", de J. M. Coetzee
"A Chave do Tamanho", de Monteiro Lobato
"Lord Jim", de Joseph Conrad
"Angústia", de Graciliano Ramos
"Os Irmãos Karamázov", de F. Dostoiévski
"Antologia Poética", de Carlos Drummond de Andrade
"O Estrangeiro", de Albert Camus
"Cem Anos de Solidão", de Gabriel García Márquez
"Luz em Agosto", de William Faulkner
"O Senhor das Moscas", de William Golding
"Desonra", de J. M. Coetzee
O Pequeno Príncipe: um livro que permanece novidade - Texto de Neide Medeiros
Literatura é novidade que permanece novidade.
(Ezra Pound. ABC da Literatura)
O crítico literário Ezra Pound, em ABC da literatura, apresenta dois conceitos de literatura – Literatura é linguagem carregada de significado e Literatura é novidade que permanece novidade. Esses conceitos poundianos se aplicam muito bem ao livro O Pequeno Príncipe.
Amélia Lacombe, em nota introdutória à edição da Agir (2004), explica o porquê da permanência desse livro:
Livro de criança? Com certeza. Livro de adulto também, pois todo homem traz dentro de si o menino que foi.
(...) Como compreender que uma história aparentemente tão ingênua seja comovente para tantas pessoas?
O Pequeno Príncipe devolve a cada um o mistério da infância. De repente retornam os sonhos. Reaparece a lembrança de questionamentos, desvelam-se incoerências acomodadas, quase já imperceptíveis na pressa do dia-a-dia. Voltam ao coração escondidas recordações. O reencontro, o homem-menino.
A história do pequeno príncipe é bem conhecida dos leitores, vejamos alguns dados que estão por trás da narrativa.
A origem do livro:
Em dezembro de 1935, quando tentava fazer o percurso Paris-Saigon, o avião pilotado por Exupéry sofreu uma pane e ele se viu obrigado a aterrissar a 200km de Cairo, em pleno deserto. Durante cinco dias, o piloto percorreu o deserto até que encontrou uma caravana de nômades que o socorreu. Foi dessa própria experiência vivida no deserto que nasceu O Pequeno Príncipe.
Escrito e ilustrado por Exupéry, a história apresenta um narrador que conta como ficou ao relento durante uma pane que seu avião sofreu no deserto de Saara. Na primeira noite, o piloto dormiu nas areias do deserto e foi aí que apareceu o pequeno príncipe. É nesta parte que entra o reino da fantasia, e a história assume ares de fábula. A raposa e a rosa, personagens que convivem com o principezinho, são seres falantes.
Criação da personagem:
Há duas versões que explicam como se originou essa personagem que tem despertado a atenção de crianças e adultos.
O ano de 1935 foi marcante para Exupéry. Enviado para Moscou com o objetivo de fazer uma reportagem, ele descobre, na viagem de trem para Polônia, em um dos vagões, um pobre casal com uma criança. A beleza do menino levou-o a pensar na figura do músico Mozart e de um pequeno príncipe. Dessa visão, surgiu a ideia de criar o personagem.
Durante o verão de 1941, Exupéry esteve internado em um hospital de Hollywood e recebia sempre a visita da atriz francesa Annabella Power, casada com Tyrone Power. Nessas visitas, a atriz lia para o escritor/aviador a história de A Pequena Sereia, de Andersen, e esta bonita história teria influenciado a criação do pequeno príncipe. Aliado a isso, Exupéry confessou, certa vez, que gostaria de ter escrito uma história à moda dos contos de fadas. Esta seria a segunda versão para a criação dessa personagem que traz de “volta ao coração escondidas recordações”.
Antoine Jean Baptiste Marie Roger de Saint-Exupéry, nome completo de Saint-Exupéry, ou simplesmente Exupéry, publicou O Pequeno Príncipe em 1943. O livro saiu, inicialmente, nos Estados Unidos, mas hoje já ultrapassou a casa de 100 milhões vendidos. É o livro francês mais vendido no mundo.
Neide Medeiros Santos – Crítica literária da FNLIJ/PB
(Ezra Pound. ABC da Literatura)
O crítico literário Ezra Pound, em ABC da literatura, apresenta dois conceitos de literatura – Literatura é linguagem carregada de significado e Literatura é novidade que permanece novidade. Esses conceitos poundianos se aplicam muito bem ao livro O Pequeno Príncipe.
Amélia Lacombe, em nota introdutória à edição da Agir (2004), explica o porquê da permanência desse livro:
Livro de criança? Com certeza. Livro de adulto também, pois todo homem traz dentro de si o menino que foi.
(...) Como compreender que uma história aparentemente tão ingênua seja comovente para tantas pessoas?
O Pequeno Príncipe devolve a cada um o mistério da infância. De repente retornam os sonhos. Reaparece a lembrança de questionamentos, desvelam-se incoerências acomodadas, quase já imperceptíveis na pressa do dia-a-dia. Voltam ao coração escondidas recordações. O reencontro, o homem-menino.
A história do pequeno príncipe é bem conhecida dos leitores, vejamos alguns dados que estão por trás da narrativa.
A origem do livro:
Em dezembro de 1935, quando tentava fazer o percurso Paris-Saigon, o avião pilotado por Exupéry sofreu uma pane e ele se viu obrigado a aterrissar a 200km de Cairo, em pleno deserto. Durante cinco dias, o piloto percorreu o deserto até que encontrou uma caravana de nômades que o socorreu. Foi dessa própria experiência vivida no deserto que nasceu O Pequeno Príncipe.
Escrito e ilustrado por Exupéry, a história apresenta um narrador que conta como ficou ao relento durante uma pane que seu avião sofreu no deserto de Saara. Na primeira noite, o piloto dormiu nas areias do deserto e foi aí que apareceu o pequeno príncipe. É nesta parte que entra o reino da fantasia, e a história assume ares de fábula. A raposa e a rosa, personagens que convivem com o principezinho, são seres falantes.
Criação da personagem:
Há duas versões que explicam como se originou essa personagem que tem despertado a atenção de crianças e adultos.
O ano de 1935 foi marcante para Exupéry. Enviado para Moscou com o objetivo de fazer uma reportagem, ele descobre, na viagem de trem para Polônia, em um dos vagões, um pobre casal com uma criança. A beleza do menino levou-o a pensar na figura do músico Mozart e de um pequeno príncipe. Dessa visão, surgiu a ideia de criar o personagem.
Durante o verão de 1941, Exupéry esteve internado em um hospital de Hollywood e recebia sempre a visita da atriz francesa Annabella Power, casada com Tyrone Power. Nessas visitas, a atriz lia para o escritor/aviador a história de A Pequena Sereia, de Andersen, e esta bonita história teria influenciado a criação do pequeno príncipe. Aliado a isso, Exupéry confessou, certa vez, que gostaria de ter escrito uma história à moda dos contos de fadas. Esta seria a segunda versão para a criação dessa personagem que traz de “volta ao coração escondidas recordações”.
Antoine Jean Baptiste Marie Roger de Saint-Exupéry, nome completo de Saint-Exupéry, ou simplesmente Exupéry, publicou O Pequeno Príncipe em 1943. O livro saiu, inicialmente, nos Estados Unidos, mas hoje já ultrapassou a casa de 100 milhões vendidos. É o livro francês mais vendido no mundo.
Neide Medeiros Santos – Crítica literária da FNLIJ/PB
domingo, 17 de abril de 2011
Poesia: a melhor auto-ajuda (Ulisses Tavares)
Calma, esperançoso leitor, iludida leitora, não fiquem bravos comigo, mas ler auto-ajuda geralmente só é bom para os escritores de auto-ajuda. Pois não existe receita para ser feliz ou dar certo na vida. Sabe por quê? Porque, na maior parte das vezes, apenas você sabe o que é bom e serve para você. O que funciona pra um nem sempre funciona para o outro. Os únicos livros de auto-ajuda que dá para se respeitar, e são úteis mesmo, são aqueles que ensinam novas receitas de bolo, como consertar objetos quebrados em casa ou como operar um computador. Ou seja, lidar com as coisas concretas, reais, exige um conhecimento também real, tintim por tintim, item por item. Com gente é diferente. Gente não vem com manual de instruções quando nasce. Nem pra viver nem pra morrer. E, se você precisa de conforto ou de conselhos, existem caminhos bem fáceis, boa parte deles de graça: igrejas, templos, botecos, amigos ou parentes... Lembrou? Se alguém anda necessitado de regras, palavras de ordem e comandos enérgicos sobre o que fazer, melhor entrar para o exército. Mas, se você não quer deixar ninguém mandar em você, tenha coragem e encare-se de frente. Não adianta fugir de seus medos, suas dores, suas fragilidades, suas tristezas. Elas sempre correm juntinho, coladas em você. Tentar ser perfeito, fazer o máximo, transformar-se em outro dói mais ainda. Colar um sorriso no rosto enquanto chora por dentro é para palhaço de circo. Portanto, entregue-se, seja apenas um ser humano cheio de dúvidas e certezas, alegrias e aflições. Aproveite e use algo que, isso sim, com certeza, é igual em todos nós: a capacidade de imaginar, de voar, de se entregar. Se nem Freud lhe explica, tente a poesia. A poesia vai resolver seus problemas existenciais? Provavelmente não. A poesia às vezes é como aquele bordão do Chacrinha, não veio pra explicar, mas pra confundir. Quando acerta é por acaso, como na vida. Ficar confuso é o normal, relaxe e aproveite. (...) O próprio pai da Psicanálise, Sigmund Freud, depois de passar a vida debruçado sobre os mistérios do sexo, os grilos na cuca, os gritos do corpo, os sussurros da alma, admitiu que aonde quer que ele fosse ou olhasse, um poeta já havia passado por ali. (...) O sábio Mário Quintana já dizia que um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... e não a gente a ele. (...) Poesia está mais pra lição de vida que lição de casa. Vá em frente. Procure os poetas. Estão todos na livraria, biblioteca ou página da internet mais próxima. Você nunca mais estará tão sozinho a ponto de achar que precisa de um livro de auto-ajuda para mostrar o caminho das pedras. Ulisses Tavares é poeta e autor do livro Se Nem Freud Explica, Tente a Poesia! (Editora Francis, 2006).
terça-feira, 12 de abril de 2011
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Os dez mais, segundo Thiago de Mello
DOM QUIXOTE - Miguel de Cervantes; A DIVINA COMÉDIA - Dante Alighieri; ODISSEIA - Homero; CLARO ENIGMA - Carlos Drummond de Andrade; FOGO MORTO - José Lins do Rego; LORD JIM - Joseph Conrad; CEM ANOS DE SOLIDÃO - Gabrial García Márquez; ALTURAS DE MACHU PICCHU - Pablo Neruda; GRANDE SERTÃO: VEREDAS - J. Guimarães Rosa; VÁRIAS HISTÓRIAS - Machado de Assis
Os glutões -- Júlio Pimentel Pinto
Ora, direi ouvir estrelas… Não, nada de ouvir. Comer. Não estrelas, naturalmente, que certo perderias os dentes. Nem comer livros, pois não somos cabras. Comer, simplesmente. Comer e ler, comer e escrever. Certos escritores jamais resistiram à oportunidade de trocar o livro por uma refeição; outros preferiram levar a comida para dentro do livro. Alguns foram glutões no dia a dia — casos de Balzac ou Lezama. Outros podiam até ser contidos à mesa, mas promoveram furiosos bacanais gastronômicos livrescos: sobretudo a brigada francesa — Rabelais, Voltaire, Proust, Dumas. Ah, estamos falando de comida. Então não poderiam faltar, óbvio, os espanhóis. Do Sancho comilão de Cervantes ao gourmet-gourmand Pepe Carvalho, de Vázquez Montalbán. Nem italianos, ou melhor, os sicilianos: Vittorini ou Camilleri, entre peixes e doces. Também o clima frio ajuda a harmonizar pratos e leituras. Que o digam Mann, Pasternak ou Blixen, criadora do impagável (em todos os sentidos) jantar de Babette. Ou o glutoníssimo Nero Wolfe, personagem de Stout. E já que nossa pátria é nossa língua e nossa língua é nossa refeição, Eça, Vinícius e Jorge Amado. Todos reunidos numa confraria que sabe que quem devora livros devora algo mais. *Júlio Pimentel é doutor em História pela FFLCH-USP
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Sonho Impossível
"(...)
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas garras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã este chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão"
(Versão em português de Chico Buarque)
Foto: Yasminn Vilela
Poema 2 -- de Arriete Vilela
domingo, 3 de abril de 2011
sábado, 2 de abril de 2011
Generosidade...
"Se me fosse dado o privilégio do saber dizer, e espaço na mídia, eu iria muito além do prof. Donizeti. A sua obra, Arriete, a sua personalidade, o seu caráter e a sua vida dão provas e testemunhos da sua merecida e irrefutável imortalidade. Com o abraço do Santos LIMA."
Suplemento SABER (Gazeta de Alagoas, 2 de abril de 2011)
"Palavra Poética e Cartografias da Memória em Arriete Vilela" -- Prof. Dr. Antonio Donizeti da Cruz (Unioeste/Paraná)
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