segunda-feira, 11 de abril de 2011
Os glutões -- Júlio Pimentel Pinto
Ora, direi ouvir estrelas… Não, nada de ouvir. Comer. Não estrelas, naturalmente, que certo perderias os dentes. Nem comer livros, pois não somos cabras. Comer, simplesmente. Comer e ler, comer e escrever. Certos escritores jamais resistiram à oportunidade de trocar o livro por uma refeição; outros preferiram levar a comida para dentro do livro. Alguns foram glutões no dia a dia — casos de Balzac ou Lezama. Outros podiam até ser contidos à mesa, mas promoveram furiosos bacanais gastronômicos livrescos: sobretudo a brigada francesa — Rabelais, Voltaire, Proust, Dumas. Ah, estamos falando de comida. Então não poderiam faltar, óbvio, os espanhóis. Do Sancho comilão de Cervantes ao gourmet-gourmand Pepe Carvalho, de Vázquez Montalbán. Nem italianos, ou melhor, os sicilianos: Vittorini ou Camilleri, entre peixes e doces. Também o clima frio ajuda a harmonizar pratos e leituras. Que o digam Mann, Pasternak ou Blixen, criadora do impagável (em todos os sentidos) jantar de Babette. Ou o glutoníssimo Nero Wolfe, personagem de Stout. E já que nossa pátria é nossa língua e nossa língua é nossa refeição, Eça, Vinícius e Jorge Amado. Todos reunidos numa confraria que sabe que quem devora livros devora algo mais. *Júlio Pimentel é doutor em História pela FFLCH-USP
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