A segunda mesa de leitura realizada nesta sexta-feira (08/07) na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), no sul do Estado do Rio de Janeiro, teve como boa surpresa a presença do escritor angolano valter hugo mãe. Surpreendentemente sincero, que chegou até mesmo a ofuscar a presença da argentina Pola Oloixarac, convidada para ser a atração principal, em um debate que trataria especificamente de obras de ficção.
"Acredito que o escritor procura substituir com a literatura tudo aquilo que lhe falta. Não uso livros para reprouzir a minha vida, por exemplo. Não julgo que seja tão interessante assim para que vire um livro, um filme ou mesmo um festival inteiro de cinema. Não creio que eu seja um James Bond, com uma vida cheia de aventuras. Livros têm que ser sobre o que não tenho, o que não sou. Algo que percebemos de melhor no outro. E sobre as pessoas, que são o melhor do mundo".
Uma pergunta inevitável: por que as minúsculas? Acredita que elas podem em algum momento se tornar uma armadura para sua escrita (como algo “típico” de valter hugo mãe)?
As minúsculas vão ao encontro da oralidade e do modo como pensamos. Pretendem alcançar uma ideia de igualdade e certa aceleração na leitura. Não me levo nunca a sério demais ao ponto de achar que tenho razão, descobri o que está certo e vou ser assim a vida inteira. Não. Quero muito libertar-me também de mim próprio. Encerrei um ciclo de quatro romances escritos em minúsculas, e o meu novo livro, que estou agora mesmo a escrever, terá maiúsculas, convencionalmente, e mostrará como as opções estéticas não devem nunca superar a necessidade de procurar outras maneiras de abordarmos as questões. Estou muito interessado em renovar-me tanto quanto me seja possível.
(O Globo)
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