POEMA 1
Há sempre algo de ausente que me atormenta.
Camille Claudel
Não têm nome esses fantasmas
que me rondam; mas têm uma sensualidade
nua, grotesca, quase violenta
– embora sinuosa e fluida –,
a instalar-se na ponta do grafite,
a desandar em vulgaridades,
a incapacitar-me para as cicatrizes.
Não têm nome esses fantasmas
líquidos; mas têm uma sensualidade cruel,
quase delicada
– embora incoerente e óbvia –,
a mover-se entre relva e pedra,
a negar-me um significado,
a ser, nas minhas veias, uma sangria
de amor.
Não têm nome esses fantasmas crivados
de palavras toscas; mas têm uma sensualidade
dissoluta, persuasiva
– embora veladamente hostil –,
a fingir-se travessia,
a tatuar-se do sentido de urgência da vida
e a obrigar-me às aflições do desejo
solitário.
Inomináveis,
esses meus fantasmas dançam mistérios
na vastidão devoradora
da noite.
Do livro ÁVIDAS PAIXÕES, ÁRIDOS AMORES (In: OBRA POÉTICA REUNIDA – 2010)
ANTOLOGÍA DE POETAS BRASILEÑOS ACTUALES
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