sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Poemas de Arriete Vilela são traduzidos para o espanhol (2)

NÃO DEVIAS

Não devias enamorar-te assim
das minhas palavras: são fios
que tecem a renda com que adorno
as entardecidas beiradas dos meus dias
e tecem, igualmente, a rede com que caço
borboletas que, à tua semelhança, voejam
solitárias ao redor do meu mistério.

Não, não te devias exibir assim
à beira do poço: és pássaro de pequenas asas,
e basta um descuidado sopro da minha poesia
para fazer-te ver o céu menor do que uma lágrima.

Não devias jogar-me à passagem
– e assim, à vista de todos –
belas metáforas: esmago-as com amorosos gestos,
para que gotejem em mim o sumo das folhas
da pitangueira com seu cheiro de infância
reencontrada na tua ausência.

Poupa-te, anjo de flores que só duram um dia.
Passa à margem do que sou,
protege esses teus olhos de mares transparentes
e não queiras entender o meu silêncio, a minha recusa
nem os sutis precipícios sobre os quais vivo
e escrevo.

Protege o teu coração
e não atices a colmeia que espreita,
para além da cerca viva de papoulas,
a dor nos descuidos da alegria amorosa.


Do livro ARTESANIAS DA PALAVRA (In: OBRA POÉTICA REUNIDA – 2010)

ANTOLOGÍA DE POETAS BRASILEÑOS ACTUALES




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