(...)
“O escritório do escritor é, ao contrário de todos os outros lugares de trabalho, local para o pleno exercício da alma humana, bem mais do que até mesmo as salinhas com divãs de psicanálise e locais reservados, nas igrejas católicas, para os tradicionais confessionários, onde estranhezas muitas também desfilam as suas fantasias. Porém, é no escritório do escritor que as fantasias humanas ganham corpo, voz e alma e se arquitetam em enredo para o entretenimento, mas também, e sobretudo, para a reflexão sobre o desafio de vivermos marcadamente sob a égide da transformação permanente que o tempo e a perda imprimem, indeterminadamente, sobre todos e tudo.
É no escritório do escritor que a palavra geme no prazer e na dor de gerar novos sentidos para a língua, produzindo outras linguagens, e é também lá, no escritório do escritor, que o homem descobre que o mundo e a vida são feitos de palavras e que essa matéria, a mais plástica das matérias do artifício humano, pode construir ou destruir mundos e vidas.
No escritório do escritor o homem é Deus e Diabo, e, no meio, a palavra.”
Ítalo Meneghetti (escritor e professor universitário)
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