ENTREVISTA CONCEDIDA
AO JORNALISTA ROBERTO AMORIM
Há tempos não circulam na cidade convites para
lançamentos oficiais das obras da escritora alagoana Arriete Vilela. Mas não
significa que a produção diminuiu ou parou. Pelo contrário.
Depois de “Obras Reunidas”, ela acaba de lançar
Luares para o amor não naufragar (poemas) e Alzirinha (narrativa). Ambos
estão à venda na Academia Alagoana de Letras, que funciona na Casa Jorge de
Lima, na praça Sinimbu.
Arriete descobriu ser mais prazeroso e eficaz usar a
internet e as conversas nas escolas e faculdades como ferramentas para divulgar
suas criações literárias. Saiba mais da nova fase da escritora na entrevista
abaixo.
1.
Há quanto tempo os novos livros estavam na gestação?
Arriete Vilela - Não sei precisar, porque
normalmente maturo cada poema, cada texto na cabeça (ou no coração?), durante
as minhas caminhadas à beira-mar. Depois, ao escrevê-los de fato, retrabalho-os
quase exaustivamente. Não costumo publicar nenhum livro sem uma minuciosa
revisão (o que, todavia, não impede que, já editado, eu encontre uma falha ou
outra...).
Escrevi Luares para o Amor
não naufragar ao longo de 2011, e Alzirinha
neste primeiro semestre.
2. Em linhas gerais, fale um
pouco de cada um deles. Que diálogos quer ter com os leitores?
Arriete Vilela - Luares para o Amor não
naufragar é um livro de poemas; são 45. Embora o título
possa sugerir que há alguma dica de como evitar que amores naufraguem, não há;
se houvesse, creio que seria um livro de autoajuda, e não de poemas (rs).
Alzirinha é um livro em que conto fatos de uma infância feliz;
fatos reais, revestidos pela linguagem literária.
Meus livros sempre dialogam com
os meus leitores, do leigo ao estudioso da literatura. Quando vou às escolas
para conversar com os alunos, sinto que eles compreendem bem os meus textos; opinam, questionam, interagem. Na área
acadêmica, há três Dissertações de Mestrado (UFAL); brevemente, a profa. Elaine
Raposo defenderá a Tese de Doutoramento “Memória, corpo e espaço na poesia de
Arriete Vilela” (UFAL), e a profa. Giancarla Bombonato (Unioeste, PR) está
finalizando a Dissertação de Mestrado “Memória, narrativa e escrita de autoria
feminina em Arriete Vilela e Berta Lucía Estrada. Além disso, há inúmeros
ensaios, TCCs e monografias.
3.
Eles (os livros) são “continuidades inevitáveis” de
sua
trajetória literária ou
trazem aspectos antes nunca experimentados?
Arriete Vilela - “Tudo é e não é”, disse
Guimarães Rosa. Alzirinha é uma novidade para mim, pois nunca havia
escrito algo com ilustrações que remetem ao mundo infantil. Aliás, esse livro
está agradando às crianças e aos adultos, o que me deixa muito feliz,
naturalmente.
Luares para o Amor não naufragar é uma “continuidade” poética, sim, mas não necessariamente
“inevitável”.
4. Com o passar do tempo e a abertura para
novas experiências, a Literatura fica menos exigente com os escritores?
Arriete Vilela - Talvez. Hoje não se vêem mais
escritores como Proust, Dostoievski, Balzac, Eça de Queirós, Machado de Assis
ou Joyce. Isso não quer dizer que não haja ótimos/as escritores/as, mas a
própria dinamicidade da vida exige outro ritmo, digamos, literário.
Creio, porém, que o próprio
autor, consciente do seu ofício, deve ser exigente com o que produz.
5.
Como está sendo a experiência com a
internet (blog etc.)?
Arriete Vilela - A internet é, sem dúvida, uma
ferramenta poderosa. Tenho um blog (apoesianasentrelinhasdavida.blogspot.com),
mas, ultimamente, com palestras a fazer em escolas e faculdades, e leituras
constantes para a Oficina de Leitura e Escrita Criativa, além dos compromissos
pessoais, não disponho de tempo para atualizá-lo com frequência. Mas tanto o
blog quanto o facebook são ótimos
espaços para divulgar os meus livros e para interagir com os leitores. Também
tenho e-mail, que acesso diariamente. Gosto dessas “modernidades” (rs), mas sem
exageros.
6. É mais fácil publicar hoje ou a
relação com editoras/custos continua difícil?
Arriete Vilela - Continua difícil. De modo geral, banco os meus
livros. No entanto, para o romance Lãs ao vento (2005), contei com o patrocínio da Fundação
Raimundo Marinho; a Obra Poética Reunida (2010) foi feita em coedição (Secult), e esses dois
mais recentes tiveram o patrocínio da Braskem.
7. Como não faz mais lançamentos, que
estratégias você tem usado para divulgar as obras e dialogar com seu público.
Arriete Vilela - Não basta editar o livro; ele precisa de distribuição
e divulgação. Por isso, sempre envio, pelo correio, exemplares e exemplares
para amigos de outros Estados (e até de outros países), para professores e
críticos literários. Essa é uma forma de divulgação.
Sou sempre convidada a conversar com os alunos de
escolas e faculdades, tanto públicas como particulares. Gosto dessa interação,
pois são leitores de idades diferenciadas que fazem comentários muito
pertinentes. Faço doações aos professores e às bibliotecas. Essa é uma outra
forma de divulgação.
Quanto à divulgação midiática, não posso me queixar.
Sinto-me prestigiada e valorizada na minha terra. Os jornalistas me procuram e
me concedem espaço (há exceções, claro, porque não sou unanimidade). Esta
entrevista que você me solicitou, por exemplo, é uma ótima divulgação virtual.
E também recebo muitos e-mails; os leitores
comentam e, muitos deles, me pedem esse ou aquele livro. Não nego. É também uma
forma de divulgação (e de diálogo).
8. Tem se interessado por novas “temáticas humanas”,
na hora de escrever?
Arriete Vilela - Desde o início da minha trajetória literária, tenho
dois temas recorrentes: a Infância e o Amor. Neles cabem todas as “temáticas
humanas”.
9 . De todos os ofícios, escrever é o que
mais a consome?
Arriete Vilela - Sempre digo que tenho o privilégio de poder
conciliar a Literatura como profissão,
vocação e paixão. Orientar grupos de leitura, na Oficina de Leitura e Escrita
Criativa, discutir obras clássicas, estimular o gosto pelo bom texto literário –
isso é muito prazeroso, pois me oferece um convívio enriquecedor e uma motivação diária.
Escrever é outra instância; exige recolhimento,
disciplina, solidão. “Escrever é a minha mais profunda alegria”, disse Camus.
Dá sentido à minha vida; é a “reserva florestal” da minha alma.
De modo que nenhum “ofício” me consome. Tudo o
que faço me torna melhor como ser
humano e como escritora.
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