terça-feira, 29 de maio de 2012


ENTREVISTA CONCEDIDA
                AO JORNALISTA ROBERTO AMORIM
                           
                            (http://mais.al/cultura-e-lazer/)


       Há tempos não circulam na cidade convites para lançamentos oficiais das obras da escritora alagoana Arriete Vilela. Mas não significa que a produção diminuiu ou parou. Pelo contrário. 
Depois de “Obras Reunidas”, ela acaba de lançar Luares para o amor não naufragar (poemas) e Alzirinha (narrativa). Ambos estão à venda na Academia Alagoana de Letras, que funciona na Casa Jorge de Lima, na praça Sinimbu. 
Arriete descobriu ser mais prazeroso e eficaz usar a internet e as conversas nas escolas e faculdades como ferramentas para divulgar suas criações literárias. Saiba mais da nova fase da escritora na entrevista abaixo.

1. Há quanto tempo os novos livros estavam na gestação?

Arriete Vilela - Não sei precisar, porque normalmente maturo cada poema, cada texto na cabeça (ou no coração?), durante as minhas caminhadas à beira-mar. Depois, ao escrevê-los de fato, retrabalho-os quase exaustivamente. Não costumo publicar nenhum livro sem uma minuciosa revisão (o que, todavia, não impede que, já editado, eu encontre uma falha ou outra...).
Escrevi Luares para o Amor não naufragar  ao longo de 2011, e Alzirinha neste primeiro semestre.

2. Em linhas gerais, fale um pouco de cada um deles. Que diálogos quer ter com os leitores?
    
Arriete Vilela - Luares para o Amor não naufragar  é um livro de poemas; são 45. Embora o título possa sugerir que há alguma dica de como evitar que amores naufraguem, não há; se houvesse, creio que seria um livro de autoajuda, e não de poemas (rs).
Alzirinha é um livro em que conto fatos de uma infância feliz; fatos reais, revestidos pela linguagem literária.

Meus livros sempre dialogam com os meus leitores, do leigo ao estudioso da literatura. Quando vou às escolas para conversar com os alunos, sinto que eles compreendem bem os meus textos;  opinam, questionam, interagem. Na área acadêmica, há três Dissertações de Mestrado (UFAL); brevemente, a profa. Elaine Raposo defenderá a Tese de Doutoramento “Memória, corpo e espaço na poesia de Arriete Vilela” (UFAL), e a profa. Giancarla Bombonato (Unioeste, PR) está finalizando a Dissertação de Mestrado “Memória, narrativa e escrita de autoria feminina em Arriete Vilela e Berta Lucía Estrada. Além disso, há inúmeros ensaios, TCCs e monografias.

3.     Eles (os livros) são  “continuidades   inevitáveis”     de  sua
trajetória literária ou trazem aspectos antes nunca experimentados?

Arriete Vilela - “Tudo é e não é”, disse Guimarães Rosa. Alzirinha é uma novidade para mim, pois nunca havia escrito algo com ilustrações que remetem ao mundo infantil. Aliás, esse livro está agradando às crianças e aos adultos, o que me deixa muito feliz, naturalmente. 
Luares para o Amor não naufragar é uma “continuidade” poética, sim, mas não necessariamente “inevitável”.

4.  Com o passar do tempo e a abertura para novas experiências, a Literatura fica menos exigente com os escritores?

Arriete Vilela - Talvez. Hoje não se vêem mais escritores como Proust, Dostoievski, Balzac, Eça de Queirós, Machado de Assis ou Joyce. Isso não quer dizer que não haja ótimos/as escritores/as, mas a própria dinamicidade da vida exige outro ritmo, digamos, literário.
Creio, porém, que o próprio autor, consciente do seu ofício, deve ser exigente com o que produz.

5.     Como está sendo a experiência com a internet (blog etc.)?

Arriete Vilela - A internet é, sem dúvida, uma ferramenta poderosa. Tenho um blog (apoesianasentrelinhasdavida.blogspot.com), mas, ultimamente, com palestras a fazer em escolas e faculdades, e leituras constantes para a Oficina de Leitura e Escrita Criativa, além dos compromissos pessoais, não disponho de tempo para atualizá-lo com frequência. Mas tanto o blog quanto o facebook  são ótimos espaços para divulgar os meus livros e para interagir com os leitores. Também tenho e-mail, que acesso diariamente. Gosto dessas “modernidades” (rs), mas sem exageros.

6. É mais fácil publicar hoje ou a relação com editoras/custos continua difícil?

Arriete Vilela - Continua difícil. De modo geral, banco os meus livros. No entanto, para o romance Lãs ao vento (2005), contei com o patrocínio da Fundação Raimundo Marinho; a Obra Poética Reunida (2010) foi feita em coedição (Secult), e esses dois mais recentes tiveram o patrocínio da Braskem.

7.  Como não faz mais lançamentos, que estratégias você tem usado para divulgar as obras e dialogar com seu público.

Arriete Vilela - Não basta editar o livro; ele precisa de distribuição e divulgação. Por isso, sempre envio, pelo correio, exemplares e exemplares para amigos de outros Estados (e até de outros países), para professores e críticos literários. Essa é uma forma de divulgação.
Sou sempre convidada a conversar com os alunos de escolas e faculdades, tanto públicas como particulares. Gosto dessa interação, pois são leitores de idades diferenciadas que fazem comentários muito pertinentes. Faço doações aos professores e às bibliotecas. Essa é uma outra forma de divulgação.
Quanto à divulgação midiática, não posso me queixar. Sinto-me prestigiada e valorizada na minha terra. Os jornalistas me procuram e me concedem espaço (há exceções, claro, porque não sou unanimidade). Esta entrevista que você me solicitou, por exemplo, é uma ótima divulgação virtual.
E também recebo muitos e-mails; os leitores comentam e, muitos deles, me pedem esse ou aquele livro. Não nego. É também uma forma de divulgação (e de diálogo).

8.   Tem se interessado por novas “temáticas humanas”, na hora de escrever?

Arriete Vilela - Desde o início da minha trajetória literária, tenho dois temas recorrentes: a Infância e o Amor. Neles cabem todas as “temáticas humanas”.

9 . De todos os ofícios, escrever é o que mais a consome?

Arriete Vilela - Sempre digo que tenho o privilégio de poder conciliar a Literatura  como profissão, vocação e paixão. Orientar grupos de leitura, na Oficina de Leitura e Escrita Criativa, discutir obras clássicas, estimular o gosto pelo bom texto literário – isso é muito prazeroso, pois me oferece um convívio  enriquecedor e uma motivação diária.
Escrever é outra instância; exige recolhimento, disciplina, solidão. “Escrever é a minha mais profunda alegria”, disse Camus. Dá sentido à minha vida; é a “reserva florestal” da minha alma.
De modo que nenhum “ofício” me consome. Tudo o que faço me     torna melhor como ser humano e como escritora.

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