Em noites assim
encantadoras
como o algodão que brota da maciez
das sementes noturnas
- ou como a palavra ainda no peito do poeta -,
danço levezas ao som dos mais doces blues
e sei que posso repousar todas as minhas infâncias
no teu colo.
Em noites assim
de passos nômades,
revisito a tua boemia
e vivo em ti as ausências reais e tristes.
Em noites assim
como esta, de desejos à flor da alma,
reparto-me em luares
e tamborilo em mesas de bar a pungente canção
da tua despedida.
Em noites assim,
digo-te adeus com suavidade,
como se o nosso adeus fosse apenas um até breve,
um até já,
um simples virar de página para o próximo
poema.
(Palavras em Travessia - In: OBRA POÉTICA REUNIDA)
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Poema 35 -- Arriete Vilela
De Moacyr Scliar (1937-2011)
"Quando um jovem me pergunta que livros deve ler, respondo: “Em primeiro lugar, aqueles que os professores indicam; eles conhecem o assunto, eles têm condições de fazer boas recomendações”. Mas nunca digo que o jovem não deve ler tal ou qual obra, tal ou qual autor. Meu aprendizado como leitor passou por livros que depois considerei tolos ou ruins. Mas isso foi útil para que eu pudesse aprender a formar o meu juízo crítico. Na leitura, a gente avança pelo método de tentativa e erro, de aproximações sucessivas. Em resumo, proibir ou censurar, não. Recomendar, debater, ensinar, sim. Vivemos num mundo cheio de imperfeições e perigos, e o que podemos fazer com nossos filhos e alunos é ensiná-los a navegar por esse mar turbulento, em navios cujas velas são as páginas da grande literatura. Ler é aventura, ler é paixão."
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Poema 6 -- Arriete Vilela
Andorinha, de Manuel Bandeira
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
De Júlio Pimentel Pinto
Cartas a um jovem escritor é um roteiro para candidatos a escritor. Uma espécie de manual. Mas, antes que você, leitor, interrompa a leitura desse comentário sob o pretexto de que não pretende tornar-se escritor, aviso: o livro é mais do que isso.
Ele pertence a uma série que contém títulos como Cartas a um jovem terapeuta e Cartas a um jovem publicitário. Ou seja, livros voltados a públicos definidos. Não é o caso dessas Cartas a um jovem escritor (que, no original, são endereçadas aos jovens romancistas). E por vários motivos. Primeiro, e óbvio, porque todos sabem que terapeutas e publicitários não surgem da ocasional vontade do sujeito. Dependem de anos de preparação e aprendizado formal de teorias, procedimentos e técnicas. Já um escritor, acredita-se, pode surgir do nada. É mentira, mas quase todo mundo conhece algum sujeito que, num belo dia, se pôs a escrever e acabou por cometer algum texto literário, para dissabor dos amigos que tiveram de lê-lo, mas que nem por isso deixaram de acreditar que escrever é “dom” ou qualquer outro mito romântico vulgarizado.
Segundo, porque quem escreve as cartas é um romancista fabuloso, talvez o melhor da América Latina: Mario Vargas Llosa. Terceiro, e mais importante: porque as cartas, a bem da verdade, não se destinam a candidatos a romancistas – que, felizmente, não são tantos – mas a leitores que têm interesse em saber um pouco mais sobre o processo de criação dos livros que lêem. Leitores que percebem que uma leitura começa antes da abertura do livro e termina depois, bem depois, de descobrir o desfecho da trama.
São onze cartas, acrescidas de uma breve décima-segunda, todas endereçadas a um suposto correspondente, que, em suas respostas imaginárias, perguntaria a Vargas Llosa sobre elementos centrais da narrativa. Essas perguntas permitem que o peruano aborde aspectos ligados respectivamente: à vocação literária, aos temas de um romancista, às formas do romance e seu poder de persuasão, ao estilo, ao narrador e ao espaço, ao tempo, aos níveis (e desníveis) entre ficção e realidade, às variações ocorridas no desenvolvimento narrativo, às diversas histórias contidas num mesmo romance, aos silêncios (ou não-ditos) na escritura, às articulações entre as várias partes de um texto e a seu efeito sinfônico. Na carta número doze, Vargas Llosa simplesmente sugere ao destinatário que ignore tudo que lhe ensinou e se ponha logo a escrever.
Mas você, leitor, não deve ignorar. Porque o livro é um excelente exercício de análise literária. Para identificar e exemplificar as onze lições, decompõem-se livros e autores – de Faulkner a García Márquez, de Céline a Carpentier, de Borges a Robbe-Grillet, de Flaubert a Hemingway . Acompanhar a leitura que Vargas Llosa desenvolve é, só por si, um prazer e um aprendizado. Afinal de contas – e essa talvez seja a principal lição contida nas cartas – só escreve quem lê. E lê tanto melhor quem procura perceber a arquitetura do texto em suas minúcias, sobretudo quando a obra elide seu movimento de construção, de tão sofisticado e preciso que ele é.
São especialmente importantes as reflexões de Vargas Llosa sobre a complexa – e tantas vezes banalizada – relação entre ficção e realidade ou entre ficção e história, algo que já apareceu em seus outros livros de crítica literária e, em especial, no ótimo A verdade das mentiras. É também curioso perceber como o que aparece nas Cartas de forma genérica ou como fruto de leituras ecoa em sua ficção. Inclusive a coincidência das publicações no Brasil desse volume de cartas (a edição original é de 1997) e do recente romance Travessuras da menina má (...) facilita a comparação e nos faz perceber a projeção e a expressão da boa leitura na escritura. Mais do que isso, nos traz a perspectiva de ler, num espaço muito curto de tempo, dois livros de Vargas Llosa, o que é um privilégio.
E assim podemos descobrir que um escritor não nasce com qualquer “dom”, nem desponta por obra e graça do Espírito Santo. Precisa de anos de preparação e aprendizado formal de teorias, procedimentos e técnicas. Sem contar as infinitas leituras. Igual a um terapeuta ou a um publicitário. Ou mais complicado.
(In: Paisagens da Crítica - blog de Júlio Pimentel Pinto)
Ele pertence a uma série que contém títulos como Cartas a um jovem terapeuta e Cartas a um jovem publicitário. Ou seja, livros voltados a públicos definidos. Não é o caso dessas Cartas a um jovem escritor (que, no original, são endereçadas aos jovens romancistas). E por vários motivos. Primeiro, e óbvio, porque todos sabem que terapeutas e publicitários não surgem da ocasional vontade do sujeito. Dependem de anos de preparação e aprendizado formal de teorias, procedimentos e técnicas. Já um escritor, acredita-se, pode surgir do nada. É mentira, mas quase todo mundo conhece algum sujeito que, num belo dia, se pôs a escrever e acabou por cometer algum texto literário, para dissabor dos amigos que tiveram de lê-lo, mas que nem por isso deixaram de acreditar que escrever é “dom” ou qualquer outro mito romântico vulgarizado.
Segundo, porque quem escreve as cartas é um romancista fabuloso, talvez o melhor da América Latina: Mario Vargas Llosa. Terceiro, e mais importante: porque as cartas, a bem da verdade, não se destinam a candidatos a romancistas – que, felizmente, não são tantos – mas a leitores que têm interesse em saber um pouco mais sobre o processo de criação dos livros que lêem. Leitores que percebem que uma leitura começa antes da abertura do livro e termina depois, bem depois, de descobrir o desfecho da trama.
São onze cartas, acrescidas de uma breve décima-segunda, todas endereçadas a um suposto correspondente, que, em suas respostas imaginárias, perguntaria a Vargas Llosa sobre elementos centrais da narrativa. Essas perguntas permitem que o peruano aborde aspectos ligados respectivamente: à vocação literária, aos temas de um romancista, às formas do romance e seu poder de persuasão, ao estilo, ao narrador e ao espaço, ao tempo, aos níveis (e desníveis) entre ficção e realidade, às variações ocorridas no desenvolvimento narrativo, às diversas histórias contidas num mesmo romance, aos silêncios (ou não-ditos) na escritura, às articulações entre as várias partes de um texto e a seu efeito sinfônico. Na carta número doze, Vargas Llosa simplesmente sugere ao destinatário que ignore tudo que lhe ensinou e se ponha logo a escrever.
Mas você, leitor, não deve ignorar. Porque o livro é um excelente exercício de análise literária. Para identificar e exemplificar as onze lições, decompõem-se livros e autores – de Faulkner a García Márquez, de Céline a Carpentier, de Borges a Robbe-Grillet, de Flaubert a Hemingway . Acompanhar a leitura que Vargas Llosa desenvolve é, só por si, um prazer e um aprendizado. Afinal de contas – e essa talvez seja a principal lição contida nas cartas – só escreve quem lê. E lê tanto melhor quem procura perceber a arquitetura do texto em suas minúcias, sobretudo quando a obra elide seu movimento de construção, de tão sofisticado e preciso que ele é.
São especialmente importantes as reflexões de Vargas Llosa sobre a complexa – e tantas vezes banalizada – relação entre ficção e realidade ou entre ficção e história, algo que já apareceu em seus outros livros de crítica literária e, em especial, no ótimo A verdade das mentiras. É também curioso perceber como o que aparece nas Cartas de forma genérica ou como fruto de leituras ecoa em sua ficção. Inclusive a coincidência das publicações no Brasil desse volume de cartas (a edição original é de 1997) e do recente romance Travessuras da menina má (...) facilita a comparação e nos faz perceber a projeção e a expressão da boa leitura na escritura. Mais do que isso, nos traz a perspectiva de ler, num espaço muito curto de tempo, dois livros de Vargas Llosa, o que é um privilégio.
E assim podemos descobrir que um escritor não nasce com qualquer “dom”, nem desponta por obra e graça do Espírito Santo. Precisa de anos de preparação e aprendizado formal de teorias, procedimentos e técnicas. Sem contar as infinitas leituras. Igual a um terapeuta ou a um publicitário. Ou mais complicado.
(In: Paisagens da Crítica - blog de Júlio Pimentel Pinto)
De Peter Gay
"Sabemos o quanto Freud invejava os poetas por compreenderem intuitivamente o que ele levaria anos a fio para estabelecer."
(In: A Educação dos Sentidos)
(In: A Educação dos Sentidos)
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
De Álvaro de Campos (um dos heterônimos de Fernando Pessoa)
(...)
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
(...)
"Tabacaria"
A alegria da escrita -- Ferreira Gullar
Poema relativo, de Jorge de Lima
Vem, ó bem-amada.
Junto à minha casa
tem um regato (até quieto o regato).
Não tem pássaros, que pena!
Mas os coqueiros fazem,
quando o vento passa,
um barulho que às vezes parece
bate-bate de asas.
Supõe, ó bem-amada,
se o vento não sopra,
podem vir borboletas
à procura das minhas jarras
onde há flores debruçadas,
tão debruçadas que parecem escutar.
Todos os homens têm seus crentes,
ó bem-amada:
- os que pregam o amor ao próximo
e os que pregam a morte dele.
Mas tudo é pequeno
e ligeiro no mundo, ó amada.
Só o clamor dos desgraçados
é cada vez mais imenso!
Vem, ó bem-amada.
Junto à minha casa
tem um regato até manso.
E os teus passos podem ir devagar
pelos caminhos:
- aqui não há a inquietação
de se atravessar o asfalto.
Vem, ó bem-amada,
porque, como te disse,
se não há pássaros no meu parque,
pode ser, se o vento
não soprar forte,
que venham borboletas.
Tudo é relativo
e incerto no mundo.
Também tuas sobrancelhas
parecem asas abertas.
Junto à minha casa
tem um regato (até quieto o regato).
Não tem pássaros, que pena!
Mas os coqueiros fazem,
quando o vento passa,
um barulho que às vezes parece
bate-bate de asas.
Supõe, ó bem-amada,
se o vento não sopra,
podem vir borboletas
à procura das minhas jarras
onde há flores debruçadas,
tão debruçadas que parecem escutar.
Todos os homens têm seus crentes,
ó bem-amada:
- os que pregam o amor ao próximo
e os que pregam a morte dele.
Mas tudo é pequeno
e ligeiro no mundo, ó amada.
Só o clamor dos desgraçados
é cada vez mais imenso!
Vem, ó bem-amada.
Junto à minha casa
tem um regato até manso.
E os teus passos podem ir devagar
pelos caminhos:
- aqui não há a inquietação
de se atravessar o asfalto.
Vem, ó bem-amada,
porque, como te disse,
se não há pássaros no meu parque,
pode ser, se o vento
não soprar forte,
que venham borboletas.
Tudo é relativo
e incerto no mundo.
Também tuas sobrancelhas
parecem asas abertas.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Inspiração -- Igor Stravinsky
Um leigo pensaria que, para criar, é preciso aguardar a inspiração. É um erro. Não que eu queira negar a importância da inspiração. Pelo contrário, considero-a uma força motriz, que encontramos em toda atividade humana e que, portanto, não é apenas um monopólio dos artistas. Essa força, porém, só desabrocha quando algum esforço a põe em movimento, e esse esforço é o trabalho.
Inspiração -- Federico García Lorca
Inspiração - Mário Quintana
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
De Gabriel Serpa
Tua alegria me chamou para fora,
e vi que não estava pronto.
Minha alegria te chamou para dentro,
e já tinhas ido.
e vi que não estava pronto.
Minha alegria te chamou para dentro,
e já tinhas ido.
Poema 26, de Arriete Vilela
Montas o laço
da armadilha tão clara
e calmamente sob os meus pés
que me ofereço, inclusive, para te ajudar
no remate ao nó.
Em docilidade, permito que tires
todas as exatas medidas dos meus passos,
para que eu não os dê muito rígidos
em direção ao inevitável vazio,
às devastadoras não-referências.
É assim que deve ser,
pois se trata de libertação:
tu me preparas a armadilha,
e eu te ajudo no requinte do laço.
Desse modo, dificilmente saberemos
quem feriu a ética dessa paixão
e a fez sangrar para que doesse sempre,
sempre e sempre, como uma maldição.
(Palavras em Travessia - in: OBRA POÉTICA REUNIDA)
De Moacyr Scliar
"(...) já joguei fora textos por causa de críticas negativas. Hoje em dia, porém, confio mais no 'crítico interior' que todos temos."
Distribuição da Poesia, de Jorge de Lima
Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Escutai, meus irmãos: poesia tirei de tudo
para oferecer ao Senhor.
Não tirei ouro da terra
nem sangue de meus irmãos.
Estalajadeiros não me incomodeis.
Bufarinheiros e banqueiros
sei fabricar distâncias
para vos recuar.
A vida está malograda,
creio nas mágicas de Deus.
Os galos não cantam,
a manhã não raiou.
Vi os navios irem e voltarem.
Vi os infelizes irem e voltarem.
Vi homens obesos dentro do fogo.
Vi ziguezagues na escuridão.
Capitão-mor, onde é o Congo?
Onde é a Ilha de São Brandão?
Capitão-mor que noite escura!
Uivam molossos na escuridão.
Ó indesejáveis, qual o país,
qual o país que desejais?
Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Só tenho poesia para vos dar.
Abancai-vos, meus irmãos.
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Escutai, meus irmãos: poesia tirei de tudo
para oferecer ao Senhor.
Não tirei ouro da terra
nem sangue de meus irmãos.
Estalajadeiros não me incomodeis.
Bufarinheiros e banqueiros
sei fabricar distâncias
para vos recuar.
A vida está malograda,
creio nas mágicas de Deus.
Os galos não cantam,
a manhã não raiou.
Vi os navios irem e voltarem.
Vi os infelizes irem e voltarem.
Vi homens obesos dentro do fogo.
Vi ziguezagues na escuridão.
Capitão-mor, onde é o Congo?
Onde é a Ilha de São Brandão?
Capitão-mor que noite escura!
Uivam molossos na escuridão.
Ó indesejáveis, qual o país,
qual o país que desejais?
Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Só tenho poesia para vos dar.
Abancai-vos, meus irmãos.
Enviado por Luciana Wander
De vez em quando me sinto assim: um pardalzinho de asa quebrada...
Querida, parabéns pelo blog! É de utilidade pública! Nele, como em tudo o que costuma fazer, você sai garimpando muito dos bons escritos que existem mundo afora, e os torna ainda mais públicos e acessíveis a nós.
Admiro-a.
Querida, parabéns pelo blog! É de utilidade pública! Nele, como em tudo o que costuma fazer, você sai garimpando muito dos bons escritos que existem mundo afora, e os torna ainda mais públicos e acessíveis a nós.
Admiro-a.
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Pardalzinho, de Manuel Bandeira
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
De Mário Quintana
Versículo inédito do Gênesis
"E eis que, tendo Deus descansado no sétimo dia, os Poetas continuaram a obra da Criação."
"E eis que, tendo Deus descansado no sétimo dia, os Poetas continuaram a obra da Criação."
De Sophia de Mello Breyner Andresen, escritora portuguesa
"Penso que a poesia faz parte da história da vida, e não da história da literatura."
Enviado por Dandara Carvalho
Arriete,
cada dia que leio seu blog fico mais feliz por você. Tá lindo.
Estou indicando via twitter e facebook para que assim como eu outros apreciem seu talento.
Um beijo.
cada dia que leio seu blog fico mais feliz por você. Tá lindo.
Estou indicando via twitter e facebook para que assim como eu outros apreciem seu talento.
Um beijo.
Enviado por Lavínia Medeiros
Olá, Arriete:
Adorei seu blog: o pensamento inicial está belíssimo, de uma sensibilidade inifinita. Além de todo o conteúdo e das fotos.
É indispensável sua interação com todos aqueles que priorizam a cultura.
Abraço.
Adorei seu blog: o pensamento inicial está belíssimo, de uma sensibilidade inifinita. Além de todo o conteúdo e das fotos.
É indispensável sua interação com todos aqueles que priorizam a cultura.
Abraço.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Viagem
Ó tristeza me desculpe, estou de malas prontas
Hoje a poesia veio ao meu encontro
Já raiou o dia, vamos viajar
Vamos indo de carona
Na garupa leve do vento macio
Que vem caminhando desde muito longe,
Lá do fim do mar
Vamos visitar a estrela da manhã raiada
Que pensei perdida pela madrugada,
Mas que vai escondida querendo brincar
Senta nessa nuvem clara,
Minha poesia ainda se prepara
Traz uma cantiga,vamos espalhando música no ar
Olha quantas aves brancas, minha poesia
Dançam nossa valsa pelo céu que o dia
Fez todo bordado de raios de sol
Ó, poesia, me ajude, vou colher avencas,
Lírios, rosas, dálias
Pelos campos verdes que você batiza de jardins do céu
Mas pode ficar tranquila, minha poesia
Pois nós voltaremos numa estrela guia,
Num clarão de lua quando serenar
Ou talvez até quem sabe
Nós só voltaremos no cavalo baio
No alazão da noite, cujo nome é raio, raio de luar
João de Aquino e Paulo César Pinheiro
Foto de Arriete Vilela
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Livros e amantes, de Izabel Brandão
Livros?
Melhor não tê-los.
Mas sem tê-los
como saber de seus incontáveis
segredos?
– São palavras
apenas.
Podem até dizer.
Mas se ficarem guardadas
ficam caladas, amuadas
um horror.
Melhor dispô-las
em prateleiras azuis
onde os olhos se espalhem gulosos,
e as mãos fiquem palpitando para tocá-las.
Ou então escondê-las entre as almofadas
do quarto de dormi
e só lê-las
quando brotar nos olhos
o desejo pelo ser amado.
Só assim o clandestino amor
pelas palavras pode descer do pedestal
e embeber-se no mel
enquanto os olhos tecem
estrelas no papel.
(In: Ilha de olhos e espelhos)
Melhor não tê-los.
Mas sem tê-los
como saber de seus incontáveis
segredos?
– São palavras
apenas.
Podem até dizer.
Mas se ficarem guardadas
ficam caladas, amuadas
um horror.
Melhor dispô-las
em prateleiras azuis
onde os olhos se espalhem gulosos,
e as mãos fiquem palpitando para tocá-las.
Ou então escondê-las entre as almofadas
do quarto de dormi
e só lê-las
quando brotar nos olhos
o desejo pelo ser amado.
Só assim o clandestino amor
pelas palavras pode descer do pedestal
e embeber-se no mel
enquanto os olhos tecem
estrelas no papel.
(In: Ilha de olhos e espelhos)
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Citação
"Quero um bem, um sonho, uma esperança - enfim, algo que esteja sempre diante de mim, além de mim, maior do que a minha própria expectativa, maior do que tudo aquilo que passa."
(Oberman, de Senancour)
(Oberman, de Senancour)
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Enviado pela fotógrafa Sandra Aguiar
Olá, Arriete:
estou apaixonada por seu blog.
Parabénssssssssss!
Um grande abraço,
Sandra Quintela de Aguiar.
estou apaixonada por seu blog.
Parabénssssssssss!
Um grande abraço,
Sandra Quintela de Aguiar.
Poema e Foto de Arriete Vilela
Enviado pelo poeta e escritor Humberto Gomes de Barros
Receita (deliciosa) - Humberto Gomes de Barros - Foto: Arriete Vilela
Leve ao céu
Uma rede bem fina
Colha com ela
O resplendor
Da estrela Dalva
Ou da Vespertina
Em uma proveta
Ponha de cada vez
De lavanda o perfume
Do pêssego a maciez
Aos ingredientes
Bem devagarinho
Misture também
A embriaguez
De um grande vinho
A doçura do mel
Da garça a elegância
Firmeza da rocha
E do lobo guará
Toda desconfiança
Do mar oceano
A imprevisibilidade
E do beija-flor
A gentil sutileza
Se assim o fizer
Você terá com certeza
O ente mais caro
Da natureza
Se você com cuidado
Assim o fizer
Terá produzido
Uma mulher
Uma rede bem fina
Colha com ela
O resplendor
Da estrela Dalva
Ou da Vespertina
Em uma proveta
Ponha de cada vez
De lavanda o perfume
Do pêssego a maciez
Aos ingredientes
Bem devagarinho
Misture também
A embriaguez
De um grande vinho
A doçura do mel
Da garça a elegância
Firmeza da rocha
E do lobo guará
Toda desconfiança
Do mar oceano
A imprevisibilidade
E do beija-flor
A gentil sutileza
Se assim o fizer
Você terá com certeza
O ente mais caro
Da natureza
Se você com cuidado
Assim o fizer
Terá produzido
Uma mulher
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Enviado por Cunha Leiradella
Conto de Leiradella, escritor português
MULHERES DE PASSADO
E
HOMENS DE FUTURO
Andréa era recepcionista, mas não gostava de pessoas. Ana Carolina era corretora, mas não gostava de vendas. André era médico, mas não gostava de doenças. Eduardo era jornalista, mas não gostava de notícias.
Moravam em Belo Horizonte. Andréa e Ana Carolina no mesmo bairro, e André e Eduardo em bairros diferentes. Conheceram-se na Casa dos Contos, numa sexta-feira de noite. Andréa comendo batata frita com ketchup, Ana Carolina, frango à passarinho, André, peixe ao molho branco, e Eduardo, salaminho e azeitonas. Sentaram na mesma mesa por acaso. Andréa vinda do hotel, Ana Carolina, da companhia de seguros, André, do hospital, e Eduardo, sem destino.
O restaurante estava cheio. Andréa chegou primeiro e Ana Carolina não tinha onde sentar. André jurou que já as conhecia e Eduardo esbarrou na mesa, sem querer. Andréa sorriu e disse que era a força do destino, e arrumou mais um lugar.
Gostaram de se encontrar e fizeram confidências. Andréa, nascida em junho, em Santa Lúcia, queria ser cantora. Ana Carolina, nascida em setembro, na Savassi, queria ser atriz. André, nascido em maio, em Itabira, queria ser violonista. Eduardo, nascido em novembro, em Portugal, não sabia.
Falaram do passado e do futuro, e resolveram prolongar aquele encontro. Andréa leu as mãos e fez horóscopos, e Ana Carolina quis saber onde moravam. André falou da fazenda, em Itabira, e Eduardo escutou, silencioso. Andréa gostava de cavalos e de matas, e Ana Carolina morava só e não tinha namorado. André sorriu e achou ótimo, e Eduardo ficou triste e pediu vinho.
Andréa brindou a Câncer e a Gêmeos, e ao seu perfeito entendimento, e lamentou o medo que Libra sempre tem do imperioso e angustiado Escorpião. Ana Carolina brindou aos homens de futuro e afirmou, seriamente, que os opostos sempre acabando atraídos. André sorriu e achou ótimo, e Eduardo tentou adivinhar a cor dos sutiãs.
Terminaram a noite com duas garrafas de vinho português. Andréa cantou Travessia e André fez do tampo da mesa um violão. Ana Carolina lamentou a miséria dos sem-terra e a violência dos pivetes, e foi ao banheiro vomitar. Eduardo rebateu o vinho com conhaque e pensou nos seios de Andréa nus, caídos num lençol.
Festejaram o fim do ano em Cabo Frio e passaram um fim de semana na fazenda de André, em Itabira. Voltaram a Belo Horizonte bem queimados e Andréa casou com André no mês de maio. Eduardo embebedou-se na Casa dos Contos e não foi ao casamento e morreu atropelado na Avenida Afonso Pena nessa noite, e Ana Carolina desenvolveu dons mediúnicos e apaixonou-se por um colega de trabalho, aquariano e malcasado.
Naquele ano, o Brasil foi campeão de Fórmula 1, sem disputar a última das corridas, e Mikhail Gorbachev publicou Perestroika, sem prever a derrocada.
CUNHA DE LEIRADELLA
E
HOMENS DE FUTURO
Andréa era recepcionista, mas não gostava de pessoas. Ana Carolina era corretora, mas não gostava de vendas. André era médico, mas não gostava de doenças. Eduardo era jornalista, mas não gostava de notícias.
Moravam em Belo Horizonte. Andréa e Ana Carolina no mesmo bairro, e André e Eduardo em bairros diferentes. Conheceram-se na Casa dos Contos, numa sexta-feira de noite. Andréa comendo batata frita com ketchup, Ana Carolina, frango à passarinho, André, peixe ao molho branco, e Eduardo, salaminho e azeitonas. Sentaram na mesma mesa por acaso. Andréa vinda do hotel, Ana Carolina, da companhia de seguros, André, do hospital, e Eduardo, sem destino.
O restaurante estava cheio. Andréa chegou primeiro e Ana Carolina não tinha onde sentar. André jurou que já as conhecia e Eduardo esbarrou na mesa, sem querer. Andréa sorriu e disse que era a força do destino, e arrumou mais um lugar.
Gostaram de se encontrar e fizeram confidências. Andréa, nascida em junho, em Santa Lúcia, queria ser cantora. Ana Carolina, nascida em setembro, na Savassi, queria ser atriz. André, nascido em maio, em Itabira, queria ser violonista. Eduardo, nascido em novembro, em Portugal, não sabia.
Falaram do passado e do futuro, e resolveram prolongar aquele encontro. Andréa leu as mãos e fez horóscopos, e Ana Carolina quis saber onde moravam. André falou da fazenda, em Itabira, e Eduardo escutou, silencioso. Andréa gostava de cavalos e de matas, e Ana Carolina morava só e não tinha namorado. André sorriu e achou ótimo, e Eduardo ficou triste e pediu vinho.
Andréa brindou a Câncer e a Gêmeos, e ao seu perfeito entendimento, e lamentou o medo que Libra sempre tem do imperioso e angustiado Escorpião. Ana Carolina brindou aos homens de futuro e afirmou, seriamente, que os opostos sempre acabando atraídos. André sorriu e achou ótimo, e Eduardo tentou adivinhar a cor dos sutiãs.
Terminaram a noite com duas garrafas de vinho português. Andréa cantou Travessia e André fez do tampo da mesa um violão. Ana Carolina lamentou a miséria dos sem-terra e a violência dos pivetes, e foi ao banheiro vomitar. Eduardo rebateu o vinho com conhaque e pensou nos seios de Andréa nus, caídos num lençol.
Festejaram o fim do ano em Cabo Frio e passaram um fim de semana na fazenda de André, em Itabira. Voltaram a Belo Horizonte bem queimados e Andréa casou com André no mês de maio. Eduardo embebedou-se na Casa dos Contos e não foi ao casamento e morreu atropelado na Avenida Afonso Pena nessa noite, e Ana Carolina desenvolveu dons mediúnicos e apaixonou-se por um colega de trabalho, aquariano e malcasado.
Naquele ano, o Brasil foi campeão de Fórmula 1, sem disputar a última das corridas, e Mikhail Gorbachev publicou Perestroika, sem prever a derrocada.
CUNHA DE LEIRADELLA
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Fálica flor - Texto e foto de Arriete Vilela
sábado, 5 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Enviado por Affonso Romano de Sant'Anna
Arriete, querida, vi o seu blog, e é isso mesmo, só a internet pode nos resgatar da imprensa de papel.
Estou aqui batalhando dois livros novos. Entrego o de poesia nesses dias (cujo título talvez seja EXERCÍCIO DE FINITUDE), e em março sai o de ensaios, LER O MUNDO.
Estou há tempos tentando melhorar o site que tenho e o blog. Vou fazê-lo proximamente.
Vi seu poema onde a PALAVRA é sempre o seu tema central, dela parte tudo, afinal.
Se quiser publicar esse poema GENESIS INVERTIDO, agradeço, faz parte de poemas do próximo livro, meio apocalíptico, mas a culpa não é minha.
Fora isto, faço uns comentários na :www.radiometropole.com.br (da Bahia); se quiser ouvir, entre no site e clique em "comentários”. Esta semana falei sobre nós e o Egito.
Abraço carinhoso meu e de Marina.
(Affonso Romano de Sant’Anna e Marina Colasanti)
Estou aqui batalhando dois livros novos. Entrego o de poesia nesses dias (cujo título talvez seja EXERCÍCIO DE FINITUDE), e em março sai o de ensaios, LER O MUNDO.
Estou há tempos tentando melhorar o site que tenho e o blog. Vou fazê-lo proximamente.
Vi seu poema onde a PALAVRA é sempre o seu tema central, dela parte tudo, afinal.
Se quiser publicar esse poema GENESIS INVERTIDO, agradeço, faz parte de poemas do próximo livro, meio apocalíptico, mas a culpa não é minha.
Fora isto, faço uns comentários na :www.radiometropole.com.br (da Bahia); se quiser ouvir, entre no site e clique em "comentários”. Esta semana falei sobre nós e o Egito.
Abraço carinhoso meu e de Marina.
(Affonso Romano de Sant’Anna e Marina Colasanti)
De Affonso Romano de Sant'Anna (professor, poeta, escritor)
GÊNESIS INVERTIDO
No sétimo dia
(antes do fim)
as geleiras fendidas
desabarão
focas, pinguins e ursos
deixarão suas ossadas
no deserto em formação
ilhas imprevistas emergirão
e o que agora é continente
será um conteúdo
na escuridão.
No sexto dia
( antes do fim)
desnorteados pássaros
não saberão
de onde vieram e para onde vão
subvertida a ordem dos mares e florestas
seres atônitos seguirão o rumo
do vento e da aflição.
No quinto dia
(antes do fim)choverá fogo no inverno
enlouquecidas as estações
as colheitas se perderão
devoradas por bactérias
germinadas
-do próprio grão.
No quarto dia
(antes do fim)
peixes envenenados boiarão
entre sargaços e destroços
e os corais também mortos
não chorarão.
No terceiro dia
(antes do fim)
no esqueleto das cidades
máquinas desoladas
bactérias desesperadas
do próprio nada comerão.
No segundo dia
(antes do fim)
o homem e a mulher
cobertos de chaga e solidão
se deitarão no barro
e desaparecerão.
No primeiro ou último dia
(antes do fim)
Deus
desolado
se retirará
para outra galáxia
e contemplando as trevas
dissipando a criação
sentirá
um pesado vazio em suas mãos.
No sétimo dia
(antes do fim)
as geleiras fendidas
desabarão
focas, pinguins e ursos
deixarão suas ossadas
no deserto em formação
ilhas imprevistas emergirão
e o que agora é continente
será um conteúdo
na escuridão.
No sexto dia
( antes do fim)
desnorteados pássaros
não saberão
de onde vieram e para onde vão
subvertida a ordem dos mares e florestas
seres atônitos seguirão o rumo
do vento e da aflição.
No quinto dia
(antes do fim)choverá fogo no inverno
enlouquecidas as estações
as colheitas se perderão
devoradas por bactérias
germinadas
-do próprio grão.
No quarto dia
(antes do fim)
peixes envenenados boiarão
entre sargaços e destroços
e os corais também mortos
não chorarão.
No terceiro dia
(antes do fim)
no esqueleto das cidades
máquinas desoladas
bactérias desesperadas
do próprio nada comerão.
No segundo dia
(antes do fim)
o homem e a mulher
cobertos de chaga e solidão
se deitarão no barro
e desaparecerão.
No primeiro ou último dia
(antes do fim)
Deus
desolado
se retirará
para outra galáxia
e contemplando as trevas
dissipando a criação
sentirá
um pesado vazio em suas mãos.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Poema 14 -- Arriete Vilela
Sobre a flor em pétalas
ou sobre o mar em ondas,
a Palavra
denuncia os destinos frágeis
e mutáveis das palavras sedosas
engalanadas
sensualistas
efemeramente eufóricas.
Elas não tecem o avesso do poema.
O avesso do poema é feito de aquietamentos,
quando flor e mar espreitam
a Palavra
na sua mais bela e perigosa
lucidez.
(A Palavra sem Âncora - In: OBRA POÉTICA REUNIDA)
ou sobre o mar em ondas,
a Palavra
denuncia os destinos frágeis
e mutáveis das palavras sedosas
engalanadas
sensualistas
efemeramente eufóricas.
Elas não tecem o avesso do poema.
O avesso do poema é feito de aquietamentos,
quando flor e mar espreitam
a Palavra
na sua mais bela e perigosa
lucidez.
(A Palavra sem Âncora - In: OBRA POÉTICA REUNIDA)
Enviado por Renildo
Belíssimas fotos!!!! Não satisfeita em fazer poesia do cotidiano usando palavras, Arriete também expressa a poesia da vida através de belas fotografias. É sensibilidade artística explodindo por todos os lados.
Parabéns pelo Blog.
Renildo
Parabéns pelo Blog.
Renildo
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
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