Montas o laço
da armadilha tão clara
e calmamente sob os meus pés
que me ofereço, inclusive, para te ajudar
no remate ao nó.
Em docilidade, permito que tires
todas as exatas medidas dos meus passos,
para que eu não os dê muito rígidos
em direção ao inevitável vazio,
às devastadoras não-referências.
É assim que deve ser,
pois se trata de libertação:
tu me preparas a armadilha,
e eu te ajudo no requinte do laço.
Desse modo, dificilmente saberemos
quem feriu a ética dessa paixão
e a fez sangrar para que doesse sempre,
sempre e sempre, como uma maldição.
(Palavras em Travessia - in: OBRA POÉTICA REUNIDA)
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